sábado, 23 de fevereiro de 2008

H.C. Artmann (1921 - 2000)


H.C. Artmann nasceu em Wien-Breitensee, na Áustria, em 1921. A partir de 1947, seus textos começam a ser divulgados pelo rádio e na revista Neue Wege, além de fazer várias leituras no lendário Art Club. Em 1952, une-se aos poetas Gerhard Rühm, Konrad Bayer, Friedrich Achleitner e Oswald Wiener, todos mais jovens que ele, com quem forma o que ficou conhecido como Wiener Gruppe (Grupo de Viena). Seu trabalho com a oralidade e o dialeto vienense teria grande influência sobre os seus companheiros. Em 1958, ano em que se distancia das performances e intervenções do Grupo de Viena, Artmann publica a coletânea de poemas dialetais med ana schwoazzn dintn, que viria a se tornar um dos livros de poemas mais populares da Áustria. Poeta e prosador, H.C. Artmann traduziria ainda François Villon para o "vienense" no volume Baladn. Nas décadas que se seguem, estabelece-se como um dos poetas centrais na Áustria do pós-guerra. Teve um papel importante na revalorização da obra dos poetas germânicos de vanguarda do entre-guerras, como Hans Arp, Hugo Ball, Raoul Hausmann e Richard Huelsenbeck. Publicou, entre outros, os livros verbarium (1966), Die Anfangsbuchstaben der Flagge (1969), Das im Walde verlorene Totem (1972) e Aus meiner Botanisiertrommel (1975). Recebeu o Georg-Büchner-Preis em 1997. H.C. Artmann morreu em Viena no ano 2000.



H.C. Artmann

querida idolatrada orquídeanil prima ballerina
de chemnitz a missiones poughkeepsie u.r.s.s. recommandé
à senhora eu envio esta carta de amor
para que possa encaixá-la em seu lac de cygne
como um pássaro sibilante a mais a migrar
na pejada concha do céu junino da ômegabóboda
no recém-restaurado átrio da sinfônica do estado aleluia
eu sou em verdade um sem-vergonha um sacropândego
um heitor vira-copos a patinar campinas
por ousar dirigir esta carta a seu pas
de deux
mas eu nada exijo não eu tão-só peço-lhe
que aceite as pérolas que lanço a seus corpos
todos os seus sonhos misericordiosa sra.! saúdo-a! sua bença!
minha filiforminha escrita à pena minha carta em claro
minha extraordinária orig. pat. insígniaficante
como nada mais peço-lhe que a aceite como
um homem de princípios um rolls royce 59 uma ferrari 60
polidactilocomotiva a engatinhar para las vegas tou-tou
tou-tou tou-tou
uma banheira sob-medida no maksoud em são paulo
um swing em pub & cócegas em núcleos ricos de novela
em alphaville em estilo casa-grande-e-bengala do eng. arq.
e urbanista komudyabusxamavaoblableblufu-
lanim
e caso tudo isso não lhe chegue aos pés pois seja
ainda
uma diva radiante em sua próxima performance
a 23 deste 19h30 em ponto horário de brasília
merda merda merda
e uma ovação entre 69 cortinas e chuva de
rosas champagne
deus sobre os montes! o que deveria nem tudo
e que por certo nem tudo será minha epistolazinha
minha clara-neve
minha belíssima
minha fofa
minha tu tu
minha toda toda papoulacreponizada
via aérea par avion luftpost u.a.m.
no trajeto entre aa & bee

(tradu
ção de Ricardo Domeneck, publicada no número de estréia
da revista Modo de Usar & Co.)


§

liebe verehrte orchideengrüne primaballerina
aus windsor am kamp massachusetts udssr recommandé
ich sende ihnen diesen liebesbrief
dass sie ihn in ihren lac de cygne einbauen können
als eine anmutig zischende schwalbe mehr
am perlgrauen septemberhimmel am ultimobaldachin
der neurenovierten staatsopernpassage allelujah
ich bin ein schamloser in wahrheit ein höllsakra
ein johann sebastian orth am örthersee auf rollschuhen
weil ich es wage diesen brief an ihren pas de deux zu
richten
aber ich befehle ihnen nichts ja ich bitte sie nur
meine ezzes hinzunehmen als das was sie sein wollen
alles was sie lieben gnädiges frl! prost du! servus!
mein federgeschriebener schlankerl mein weisser brief
mein ausserordentlich orig. pat. petschaftberühmter
als nichts andres bitt ich sie ihn hinzunehmen als
einen mann mit grundsätzen einen mg 59 einen jaguar 60
eine elfenixbeinerne locomotive 230 ph nach las vegas toi
toi toi
ein schlüsselfertiges badezimmer im berliner hilton
ein ballet rose auf groschenstöckeln und eine filmwohnung
in döbling im dehmelschokoladetortenstil von dipl. arch.
und stadtbaumeister woswasdardeiföwiarahastdeadschu-
schdea
und wenn das alles noch nicht genug sein soll dann sei er
noch
ein strahlendes leitstarlet über ihrem nächsten auftritt
am 23. ds. um punkt 19 uhr 30 mitteleuropäischer zeit
spuck spuck spuck
und ein applaus mit 69 vorhängen und regnenden tee-
rosen dazu
gott über den berg! was soll les nicht alles
und was wrid es nicht alles sein mein briefchen
mein crèmeweisses
mein hübsches
mein zartes
mein du du
mein durch & durch veilchencrêpegefüttertes
luftpost par avion via aerea u.a.m.
auf der strecke zwichen aa und bee

§

sob uma araucária kircheriana eis que sansão
o da juba em madeixas e dalilás a violetíssima

restauram sua paixão semi-afogada em estuquoceano
fosfóreas crepitam as gramíneas no matagal em redor

e canários portam nos bicos campanuláceos
a aproveitar a ocasião para exibirem emblemas

mesmo davi o da estrela e golias o arquiquelôneo
trazem hoje equilibradas oferendas de pazes

como cacetetes de látex estilingues de origami
figas generosas e revólveres de amianto

(meu caro amigo isto significa cuidado
caso gozem disparos mas nem fazem caso

sao de amianto as coisas..)
o rabino de rzeszów e pato donald a sophisticated jew

ombreiam seus empoeirados fogos de armistício
e disparam a galopes holofotes e fumações de anéis anis

marlboro gauloises philip morris de 2 – 5 reais o maço
engatilhados após o rosiclérigo matinar teletúbico

uma ou duas hosanas pela tierra del fuego da rep. chile
que tal relíquia de quarta-feira assegure um cantinho

exclusivo nos anais de sutilíssimos eventos
sob uma araucária kircheriana musgolpeiam-se na horizontal

sansão e dalilás em uma orgisséia feito peixes
a morrer pela boca de sede ao pote deitam-se dualmente

com a única diferença que dalilás a violetíssima
ao fim não há de esgoelar em asfixia ao engolir

toma oh gentle reader de fliperamas para ti dentalha teu espanto
pois nosso tempo humanizou-se após uma era de fábulas

(tradução de Ricardo Domeneck, publicada no número de estréia
da revista Modo de Usar & Co.)



§

unter eine araucaria kircheriana haben samson
mit dem löwenhaar und dalilah die sehr violette

ihre fast im mörtelozean ertrunkene liebe restauriert
hellauf knistern die gräser der wildnisse rundum

und lerchen tragen glockenblumen in ihren schnäbeln
um sich aus diesem anlass mit emblemen zu zeigen

selbst david mit dem stern und goliath erzbeschuppt
bringen heute ausgewogen versöhnliche geschenke

wie keulen aus gummi schleudern aus papierschlangen
hirschlederne amulette und pistolen aus asbest

(mein lieber freund da heisst es aufpassen
wenn die einmal losgehen aber sie tun s nicht

sind aus asbest die dinger..)
der rabbi von rzeszów und donald duck a sophisticated jew

haben ihre langvergrabenen böllerrifles geschultert
und schiessen im vorbereiten ein salut blauer rauchringe

ritmeester partagas willem de tweede zwichen ös 10-18 per stück
nach den mattrosa geladenen peynetkuppeln der morgenluft

ein bis zwei hosannah für das feuerland der freien republik chile
dass diesen grossen mittwoch auf einem vorreservierten plätzchen

in den annalen für subtilere ereignisse verzeichnen wird
unter einer araucaria kircheriana liegen mooszerstörend

der samson und die dalilah in einer marathoncopulation
wie hühnchen und hähnchen am nussberg liegen sie da die zwei

nur mit dem unterschied dass dalilah die sehr violette
schliesslich doch nicht ersticken wird an dem geschluckten

toma oh gentle reader aus read im innkreis zerbeiss deine furcht
denn unsere zeit ist humaner geworden nach einer ära der fabeln

Nenhum comentário:

Arquivo do blog