sábado, 11 de outubro de 2008

Alemanha no outono

Acordar cedo, sábado de manhã, enquanto o moço ainda dorme, sentar na sala com uma xícara de café, pensar em poéticas, em políticas, na figura de Ulrike Meinhof, no silêncio ativista de George Oppen. Pensar nos alemães que não aceitaram o naufrágio das utopias como desculpa para estéticas-cosméticas de neo-neo, mantendo-se como alarmes da distopia. Pensar em Joseph Beuys, em Rainer Werner Fassbinder, em Alexander Kluge. Fazer outro café, ver o filme coletivo Deutschland im Herbst (1978), com os diretores Fassbinder, Kluge, Volker Schlöndorff, o poeta-trovador Wolf Biermann, entre outros, tratando do chamado "Outono alemão" de 1977, quando a violência entre o grupo de guerrilha urbana da Facção do Exército Vermelho e o governo alemão chega a seu ápice, o seqüestro do avião da Lufthansa, o misterioso suicídio dos líderes da Facção na prisão.

À noite, no cinema, o último filme dos irmãos Jean-Pierre & Luc Dardenne, Le Silence de Lorna. Bolsas em colapso. Qual palavra, qual ação, George Oppen? Ceder ao discurso pós-utópico e fazer bibelôs poéticos? Produzir "belezuras" para a elite? Ou seguir com o trabalho de resistência à distopia, a outra face da vanguarda?

Querido áporo, contemplamos os insetos enquanto a década instaura-se como reino da aporia. Tristeza do discurso que segue a lógica-em-vácuo da crença de que a ineficácia das soluções até agora apresentadas constitui em si a solução final do problema, ou o carimba como inexistente.

A única resposta aos que abusam das falhas do passado para nublarem com cosmética a est-É-tica é seguir repetindo o nome das vozes dissonantes, a vanguarda como resistência à distopia: Vladimir Maiakóvski, Tristan Tzara, Kurt Schwitters, Lygia Clark, John Cage, Susan Howe, Oswald de Andrade, Joseph Beuys, Paulo Leminski, Louise Bourgeois, Glauber Rocha, Henri Chopin, Jean-Luc Godard, Jean-Marie Straub, Danielle Huillet, Denise Stoklos, etc, etc, etc, até que o último tombe.

Abaixo, Fassbinder discute arte e política (EST-É-TICA) em relação a outro trabalho seu, o épico Berlin Alexanderplatz.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog