quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Cadê o voco que estava aqui? O papel papou. Ai, verbo que te pariu!


("America under attack", Christophe Fiat em Barcelona, no Festival Proposta 2002)

No Brasil, segue-se em grande parte praticando a poesia experimental como sinônimo de poesia visual, o papel quase sempre como destino último, nos mesmos parâmetros da década de 50, sem sequer uma abertura para outras perspectivas daquela mesma década, como as dos Lettristes (Isidore Isou, Gil J. Wolman, François Dufrêne, etc) ou poetas como Henri Chopin e Bernard Heidsieck, para ficar apenas entre os franceses.

Mesmo o discurso crítico de alguns poetas experimentais, no Brasil, leva-me a crer que sua maior ambição é fazer a poesia que Noigandres não pôde fazer pelas limitações tecnológicas da década de 50, como se "renovar" se limitasse e pudesse ser compreendido apenas nos termos de "continuar" nas trilhas já abertas. Como se qualquer "passo adiante" tivesse que ser dado em linha reta.

Não há dúvidas que nos interessa muito que a poesia experimental brasileira possa usar as novas tecnologias para levar a cabo certos experimentos "esboçados" pelo grupo Noigandres ou outros. No entanto, nem mesmo Augusto de Campos (um dos mais "jovens" poetas brasileiros contemporâneos) entregou-se a tal empreitada unívoca. Uma renovação do conceito de verbivocovisual, hoje, terá necessariamente que repensar e compensar a gigantesca ausência de um sistemático trabalho sonoro e corporal na poesia dos poetas que retomaram as estratégias de vanguarda no pós-guerra brasileiro.

Uma das exceções é Ricardo Aleixo, que tem se entregado a um trabalho incrivelmente saudável e equilibrado de renovação do verbivocovisual, dando seus "passos adiante", na pesquisa est-É-tica, como quem está a dançar. Este equilíbrio funciona de forma bastante diversa em Arnaldo Antunes, e sua obra pede há tempos uma abordagem crítica mais pluralista, capaz de aterrar certas trincheiras artificiais (artificiais por se mostrarem inconscientes de seus próprios artifícios críticos). Podemos sentir esta inquietação de linguagem visual-sonora-corporal também em poetas mais jovens, como Marcelo Sahea e Henrique Dídimo. Com certeza há outros, alguns mais conhecidos, outros apenas agora começando a usar as vantagens da imprensa digital para mostrarem seus trabalhos, dos quais desesperadamente precisamos por suas importantes implicações est-É-ticas.

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