terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Poesia lírica do ano / Lyric poetry of the year

A espera foi longa e valeu a pena. O terceiro álbum de poemas do Portishead (com a poeta lírica Beth Gibbons à frente e os músicos Geoff Barrow e Adrian Utley) foi uma das coisas mais lindas de 2008. Eu vi o concerto deles em Berlim e foi uma noite maravilhosa, com Beth Gibbons sorrindo, cantando seus poemas, interagindo com a platéia como jamais imaginei que faria.

Álbum de poemas líricos do ano: Third, com os textos de Beth Gibbons e os músicos que a acompanham: Portishead.


("Machine Gun", poema lírico de Beth Gibbons, acompanhamento musical do grupo Portishead)

§

Poema lírico do ano: "The Rip", Beth Gibbons e os músicos do Portishead:



Quem torcer o nariz ou estranhar que eu chame o álbum de canções também de "poemas líricos", espero que saiba que um poeta cantando seus poemas, enquanto músicos o acompanham, é algo mais velho que andar para a frente na história da tal da humanidade. O império hegemônico da literatice sobre a poesia plural está acabando, mesmo que juízes-24-horas, professores universitários e diplomatas que escrevem nas horas vagas esperneiem. O engraçado é que mesmo se vistos como "literatura", os textos de Beth Gibbons interessam mais que os de muitos deles. Fala-se tanto em sincronia histórica, enquanto segue-se babando conceitos do século XIX em textos críticos sobre a poesia do século XXI.

Espero que os poetas jovens do país não dêem muitos ouvidos aos cinqüentões que bancam hoje no país as sereias da catástrofe, fel e fortuna que regem bons vizinhos e sibilam augustos a alçar suas pérolas contra a poesia dos mais jovens... mas eles estão apenas cumprindo seu papel histórico de poetas da senilidade. O triste fim de muitos poetas brasileiros após os 50, como já disse Décio Pignatari (que jamais sofreu de senectude precoce). Ao invés de reclamarem tanto sobre prêmios literários que nunca recebem, poderiam usar de forma mais produtiva seus espaços, ainda há centenas de poetas estrangeiros esperando tradução no Brasil.

Eu sei, eu sei... é Natal e eu deveria acalmar-me, seguir acreditando na nova comunidade de poetas surgindo.

Yes we can.

Arnaut Daniel, Bertrand de Born, Beatriz de Diá,
valei-nos! guiai-nos!

Espero ter a sorte de poder,
até o último dia de sopro nos pulmões,
seguir:

escrevendo como e com os outros poetas literários vivos.
oralizando como e com os outros poetas orais vivos.
cantando como e com os outros poetas líricos vivos.
dançando como e com os outros poetas performers vivos.
urrando como e com os outros poetas sonoros vivos.

Quem sabe, aqui e ali, até mesmo um cartaz e mais vídeos,
como e com os outros poetas visuais vivos.

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