sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Orfeu de múltiplas personalidades de Orfeu

NOTAS PARA MOI-MÊME e a quem possa interessar.

Se Orfeu desceu ao Hades, ele também ensinou agricultura.
Ora, mesmo no vale da sombra da morte, às quintas-feiras, às vezes faz sol.
Que vontade de ler Herberto Helder.
Mas, como, se ontem você lia Adília Lopes?
Será possível ler Christian Morgenstern e Georg Trakl no mesmo fim-de-semana?

Durante a mesma xícara de café, Lear e Lear?

Não é todo dia que pretendo visitar Duíno e há dias em que meu estômago não aceita bem a ingestão de baratas.
Verificar a etimologia completa da palavra paixão.

Vigilante para não cair em armadilhas que criam dualidades, onde o fluxo das marés é saudável, saudável, permitindo flexibilidade às causas e efeitos da poesia, das muitas qualidades (às vezes conflitantes) das muitas poesias.
A gama das emoções humanas pedindo que o poeta cante para cada um dos muitos segundos de uma vida.
Como se o poeta precisasse dizer a cada dia: "na alegria e na tristeza..."?

Nem toda 18:59 marca o início de alguma noche oscura del alma.
Mas, se ela vier, preparo a garganta.

Só me recuso a fazer dos poemas de Celan metáforas para o meu sofrimento.
Eu não sobrevivi a Treblinka.
E seus poemas não o salvaram do mergulho no Sena.
Rimar Celan com Sena.

O que é o que é um poeta desonesto?

Aquele que retorna de Ipanema ou Búzios
e escreve como se escapasse de Auschwitz.

Ah, sim, mas a tal da condição humana.

O que Adorno exigia era que um poema não fosse adorno.
Escrever adornos após Auschwitz seria um ato de barbárie?

Orfeu não desce ao Hades toda segunda-feira, nem perde Eurídice todo dia útil.

Penso naqueles poemas escritos em plena guerra e o título L´Allegria.

Ah! Há as ocasionais noites febris de sábado.

Que a contabilidade me permita, para cada elegia, ao menos uma ode.

Quando vierem as bassáridas para me destroçarem (elas vêm, cedo ou tarde), relaxo e gozo a paisagem.

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