segunda-feira, 16 de março de 2009

Pequeno relatório de viagens: Bruxelas

Após a maratona da semana passada, forcei-me a ter um fim-de-semana tranquilo, com alguns filmes que há tempos queria ver, cama e o moço. Agora, com um café amargo ao lado, escrevo umas parcas linhas sobre os trajetos.

Bruxelas teve seu charme especial por ter permitido que passasse uma manhã e princípio de tarde caminhando pela capital belga com Eduard Escoffet, o poeta catalão com quem aprendi tanto sobre a história da poesia sonora. Lemos na mesma noite das Soirées Babel, no Festival OFF, evento paralelo à Feira do Livro, e foi um prazer dividir o mesmo espaço com a criatura. Tenho alguns bons amigos na cidade, como o jovem ator Jey Crisfar (o "Otto" do último filme de Bruce LaBruce) e o jovem poeta Damien Spleeters, de quem já falei aqui, mas confesso que Bruxelas não é bem meu lugar favorito. Tive, no entanto, outro exemplo da hospitalidade e abertura da Alemanha contemporânea para estrangeiros, pois tive minha viagem paga pelo Instituto Goethe e fiquei hospedado na casa de hóspedes do Instituto em Bruxelas, como poeta alemão, por viver na Alemanha há anos, ainda que não escreva na língua do senhor Goethe.

EDUARD ESCOFFET:



mtp 1

a)

"um escritor é aquele que impõe silêncio à palavra" – Maurice Blanchot


b)

quase às vezes / quase quase sempre
quase às vezes / quase quase sempre
o texto que digitas:
cada letra escrita tem o traço
de um corpo: os cabelos e a pele vão tomando forma:
a letra. e um nome que é desintegrado.
quase às vezes / quase quase sempre.

c)

nada há a dizer e contudo necessitamos escrever.
as palavras sulcam a necessidade e contudo as reiventamos como calafetadores:
a madeira, a madeira que já não é madeira:
madeira no crânio, madeira no tórax, madeira nas entranhas.

hoje qualquer corpo / ele é a madeira
(a de um outro escrito)

d) agora agito as mãos e se move um pouco o ar.


(tradução de Ricardo Domeneck)



mtp1

a)

"un escriptor és aquell que imposa silenci a la paraula" maurice blanchot


b)

quasi de vegades / quasi quasi sempre
quasi de vegades / quasi quasi sempre
el text que estàs picant:
cada lletra escrita té la traca
d´un cos: els cabells i la pell van prenent forma:
la lletra. i un nom que es desdibuixa.
quasi de vegades / quasi quasi sempre

c)

no hi ha res a dir, i tanmateix necessitem escriure.
les paraules solquen la necessitat, i tanmateix les reinventem talment calafatadors:
la fusta, la fusta que ja no és fusta:
fusta al cervell, fusta al cor, fusta a les entranyes.

avui qualsevol cos / ell és la fusta
(la d´un altre escrit)


d)

ara bellugo les mans e es mou un poc l´aire.

mtp, 1-viii-02



nadala tsingtao - Eduard Escoffet
(Eduard Escoffet, poema sonoro: Nadala Tsingtao, 2006)

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