sexta-feira, 3 de abril de 2009

A fase azul de Derek Jarman


Assisti ontem ao filme de Isaac Julien e Tilda Swinton para/sobre Derek Jarman (1942 - 1994), que usa imagens extraídas de uma longa entrevista em vídeo concedida pelo poeta-diretor-pintor antes de morrer em decorrência de complicações advindas da AIDS.

Jarman teve um grande impacto sobre minha mentalidade e meu trabalho, e no mãedeuma que sonho para mim mesmo, aquele em que trabalhos poéticos elidem gêneros como poesia escrita (ou) sonora (ou) visual, seu filme-poema Blue (1993) ocupa uma posição central.




A coragem est-É-tica de Derek Jarman serve-me de modelo, sua recusa do mero realismo que toma imagens ou a linguagem como simples jogo de representação decodificadora, não importando se "precisa e objetiva" ou não, sua linguagem altamente paratática. Não surpreende que ele tenha filmado Wittgenstein (1993).

Não, seu trabalho não é para todos, nem mesmo para todos os momentos. Posso entender quem se exaspere com o fluxo de imagens em filmes como Jubilee (1977) ou The Angelic Conversation (1985), baseado nos sonetos de Shakespeare. A muitos, seu trabalho parecerá talvez um pouco histérico. Viado demais. GENDER = GENRE?

Ele foi um cuco gigante sobre os gravetos do ninho cinematográfico britânico de realismos, comparável a Ken Russell em sua fúria política por intervenção.

No entanto, o seu trabalho que mais me fascina é o filme oral Blue, com sua intransigência minimalista, ah! aquela tela toda azul!

Não se trata de louvar-lhe originalidades. Os Lettristes parisienses fizeram vários filmes orais na década de 50. Mas há algo de caroço neste Blue, seu último filme, em que ele medita sobre sua própria extinção, na voz de um pintor que está cego e às portas da morte, em uma cegueira que faz com ele veja tudo azul. Uma escuridão de céus.

Em meu amor por TEXTOS inclassificáveis, em que moram as palestras de Gertrude Stein e John Cage, Watt de Samuel Beckett e Qadós de Hilda Hilst, os poemas-em-voz de Bernard Heidsieck, os Fragmentos de um discurso amoroso, de Roland Barthes, entre tantos outros, este Blue surge como um dos meus favoritos textos poemas vozes.

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