segunda-feira, 27 de abril de 2009

Valsa com Bashir

Assisti este fim-de-semana ao documentário em animação do israelense Ari Folman, chamado Valsa com Bashir (2008). Talvez seja a melhor animação que tenha visto, minha preferida, pelo menos. Centrada na invasão do Líbano por Israel em 1982, após o assassinato de Bashir Gemayel, o presidente eleito e líder das Falanges Libanesas, o diretor Ari Folman, que estava entre as Forças de Defesa de Israel a invadirem Beirute em setembro de 1982, passa a entrevistar ex-colegas para descobrir onde estava na noite dos massacres nos campos de refugiados palestinos, chamados Sabra e Shatila, perpetrados pelos falangistas cristãos, como vingança contra o assassinato de Bashir Gemayel, com a anuência do Governo de Israel.

A escolha estética de apresentar tal história como filme de animação pode parecer questionável, mas acabou sendo extremamente "eficiente", para mim, sem tirar a força do filme. Entre os entrevistados por Folman está o jornalista Ron Ben-Yishai, o primeiro a entrar nos campos após o massacre. O filme gerou em mim a sensação física de ocupação de espaço histórico antes de desconhecido em minha mente. Poucas vezes tive esta sensação de "acréscimo épico". Guardadas as devidas proporções e sem ignorar as óbvias diferenças estéticas, lembro-me de sentir esta mesma tristeza histórica ("an epic is a poem including History", Pound dixit) apenas ao ler Os Sertões e alguns outros poucos trabalhos.



A Guerra do Líbano está entre as minhas "memórias históricas" mais antigas como criança. Eu tinha 5 anos quando os eventos do filme ocorreram, morava em Bebedouro, no interior de São Paulo. Mas lembro-me de estar na sala, com meus pais, enquanto notícias sobre a Guerra chegavam pela televisão. Lembro-me da sensação estranha de descobrir, como criança, a existência de algo chamado de "guerra". Era como se a Guerra do Líbano fosse eterna, tivesse sempre existido e sempre existiria. Quando penso em minhas memórias mais antigas como criança, reportagens sobre a Guerra do Líbano e discursos do General João Figueiredo na televisão pairam como "memórias" de um tempo em que eu aos poucos descobria, aos 5 anos, que a sala, os quartos e cozinha de minha casa não eram o mundo. E que havia coisas assustadoras da porta para fora. Talvez já houvesse o medo da morte.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu estava num festival de animação em Bucareste quando vi o trailler de Valsa com Bashir. Fiquei alucinado. Achei que ia demorar séculos para passar no Brasil. Mas não. Chegou relativamente rápido. Mas foi decepcionante. Tipo ver Shortbus. Mentira. Shortbus incomparavelmente ruim.

Mulher, achei Valsa com Bashir bem fraquinho. Por razões estéticas e por razões políticas - mas só vou me ater às últimas, porque as primeiras me dão preguiça.

O diretor "pega leve" com os israelenses. Mostra esse soldado psicologicamente torturado (que é ele mesmo, mais jovem), o jornalista israelense indignado com o que a indiferença do Sharon (sendo que o Sharon fez muito mais do que lavar as mãos nesse caso), e, durante o massacre, o exército deles assiste, impotente, os assassinatos em massa que as falanges cometeram contra os refugiados palestinos. Por que não mostrar quem armou os libaneses cristãos, por exemplo? (Dica: é um pessoal que mora no Oriente Médio, não é árabe e não crê em Alá.)

Claro que o roteiro é do cara e ele pode escolher colocar o que quiser no filme. E claro que eu, como espectador, posso achar que as escolhas do cara mostram que ele, no fundo, é um reacionário querendo pagar de bonzinho- obrigado-a-compactuar.

E nem fudendo, nem fudendo mesmo que esse filme é uma animação melhor do que A Viagem de Chihiro ou do que Persépolis. Ou Shrek 2.

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