quarta-feira, 31 de março de 2010

Alguns anúncios, antes de voltar a fazer gênero

Há alguns pontos que gostaria de acrescentar à postagem da semana passada, em que volto a discutir a questão do GENDER, especialmente após as intervenções muito boas e inteligentes de Érico Nogueira e Dirceu Villa, dois poetas com quem me é sempre muito estimulante debater. Não se trata, por fim, apenas da questão de gênero, como em GENDER. Eu acho que seria muito interessante trazer a própria questão de gênero como GENRE a esta discussão, assim como uma conversa mais ampla sobre os papéis e funções possíveis para o poeta em nosso contexto histórico, meditando sobre os vários papéis e funções que os poetas já exerceram em suas respectivas comunidades, ao longo dos tempos, como os poetas-xamãs, que eram (e ainda são em muitas regiões) os médicos e sacerdotes da comunidade; os aedos na Grécia antiga, fundadores dos mitos "nacionais" (uso o conceito anacrônico com parcimônia) em seus épicos, unificadores da comunidade; os bardos medievais, que acompanhavam os senhores em batalhas, para registrar-lhes a História; o sofisticadíssimo serviço de entretenimento dos trovadores provençais/occitanos, etc.

Penso nos cataclismos e transformações na relação entre o poeta e sua comunidade após a Revolução Francesa, algo que pode claramente ser sentido em Baudelaire e Rimbaud, ou mesmo nos jacobinos Wordsworth e Coleridge. E, não nos enganemos, ainda estamos sob os efeitos, como poetas, dos novos cataclismos e transformações catalisados pela Revolução Russa na relação entre o poeta e sua comunidade. Se Maiakóvski e Mandelshtam os sentiram nos ossos, ainda os sentimos na pele, pelas ondas de choque que nos chegam. Tenho me esforçado para esclarecer os meandros de minha defesa por um trabalho crítico que englobe forma, função e contexto.

Mas voltarei a isso na próxima postagem, tentando dialogar com a postagem de Érico Nogueira e a de Dirceu Villa.


Hoje, gostaria apenas de fazer alguns anúncios rápidos.

§ - HILDA magazine, que edito aqui no Berlimbo com um amigo, o designer britânico Oliver Roberts, está novamente no ar. Após alguns problemas com nosso servidor, mudamos o endereço da revista eletrônica, que agora é

http://www.hildamagazine.com

Lá você encontrará trabalhos que cruzam as fronteiras dos gêneros e das nacionalidades, em fotografia, vídeo, música e textualidade, de artistas contemporâneos e primordialmente jovens, que iniciaram seus trabalhos neste século, neste contexto histórico, com algumas exceções sempre necessárias, já que deixamos o dogma para os cinquentões.

Esta é a mission statement da revista:

HILDA magazine recognizes no borders between genres or national identities, and wishes to gather artists who are residents of various metropoles around the globe such as Berlin, London, São Paulo, New York, Moscow, Buenos Aires or Tokyo, where they settled in the interest of word and image exchange. We are in the business of cross pollination between lands, languages and artistic practices.

HILDA magazine is interested in cultural interventionists, political activists and any creature who has chosen to follow the code of freaks. The magazine likes to chant "one of us, one of us" at each new update. For those who do not quite fit in the puzzle.


§ - Iniciamos esta semana, na franquia eletrônica da Modo de Usar & Co., um ciclo crítico sobre o poeta florentino Guido Cavalcanti (1250 -1300).



Assim como fizemos com o poeta Caio Valério Catulo (84 a.C. - 54 a.C.), uma das fontes da est-É-tica que seguimos, convidamos cinco poetas brasileiros contemporâneos brasileiros para o ciclo, discutindo a obra de Cavalcanti, um dos melhores exemplos do que venho chamando de poesia tesa, mais que densa, concreta ou concisa. Inicia o ciclo crítico o poeta paulistano Dirceu Villa. O ciclo contará ainda com artigos e traduções de Eduardo Sterzi (RS), Érico Nogueira (SP), Bruno Brum (MG) e Rodrigo Damasceno (BA).


§ - Na semana que vem, o coletivo de que faço parte funda nosso novo projeto, que substituirá o evento semanal Berlin Hilton (2005 - 2010), que organizamos por cinco anos no clube Neue Berliner Initiative. O novo projeto chama-se SHADE inc. A estreia será no dia 07 de abril, com uma performance de Wolfgang Müller, do lendário coletivo berlinense Die Tödliche Doris (1980 - 1987), apresentando seu trabalho sonoro Seance Vocibus Avium (2008); uma pequena apresentação do cantautor berlinense Petula; uma intervenção do duo de videoartistas AlexandLiane; e DJ sets das lendas berlinenses Peaches e T.Raumschmiere.


(T.Raumschmiere - "Monster Truck Driver")

O projeto traz-nos ainda mais próximos do sonho de ter our own private Cabaret Voltaire. Primeira filipeta e programa abaixo.








§ - Ocorre hoje, no Rio de Janeiro, o evento Estrondo, organizado pela editora 7 Letras para marcar o lançamento do projeto Lado7, no qual a editora vem reunindo, há vários meses, a oralização de textos, feita pelos próprios poetas no estúdio montado por Jorge Viveiros de Castro na editora.



Chacal e Carlito Azevedo participam do evento, além dos jovens poetas cariocas Alice Sant´Anna e Gregorio Duvivier. O programa do evento o apresenta nestas palavras:

"Uma nova forma de veicular a poesia brasileira será lançada com Estrondo pelo selo Lado7, da editora 7Letras. O espetáculo traz os consagrados poetas Chacal e Carlito Azevedo e os jovens Alice Sant’Anna e Gregorio Duvivier interpretando ao vivo seus poemas com o acompanhamento musical do grupo Lado7. A versão de estúdio de Estrondo, com produção musical de Newton Cardoso e Nelson Duriez, será lançada no formato de audiolivro durante o evento, que comemora os vinte anos do CEP 20.000."

Espaço Cultural Sérgio Porto – Rua Humaitá 163 – tel. (21)2266-08696
quarta-feira, dia 31 de março de 2010
a partir das 20h30.


§ - O poeta carioca/gaúcho Marcelo Sahea lançou este mês o livro Nada a dizer (São Paulo: E, 2010).




O autor o apresenta com as seguintes palavras:


"Do meu livro anterior (Leve), lançado há quatro anos até hoje, progressos significativos ocorreram nas minhas buscas dentro do que aos poucos reconheço como arte da palavra.

É que embora ainda não as tenha abandonado, poesia, bem como poeta, são estanques denominações que vêm se mostrando insuficientes para definir o esforço que tenho feito no sentido de ampliar o alcance e a potência (que só é possível pela contaminação por outras formas de expressão – música, arte sonora, artes visuais, eletrônica, arte digital, etc – ) da minha produção poética.

Este Nada a Dizer, oficialmente meu terceiro livro, apresenta impressões desses avanços e abre picadas para o que ainda há de vir.

Nele, os poemas inéditos (a maior parte) despontaram a partir das minhas pesquisas e experiências no terreno da performance e da poesia sonora. A outra parte é composta por poemas e textos que andavam dispersos em revistas, antologias e sites literários desde 2005 e que decidi aglutinar em um suporte único.

São poemas em verso, poemas visuais, textos para página e palco, poemas objeto, textos-colagens, códigos, poema QR-Code, contágios, perquirições e tal.

A célebre e uma das definitivas definições de poesia (“I have nothing to say/ and I am saying it/ and that is poetry/ as I needed it”) que o compositor, músico, pintor e poeta norte-americano John Cage deu em seu livro Silence (1961) foi, desde a concepção deste Nada a Dizer, decisiva para a escolha do seu nome de batismo.

Coisa natural para poetas (ou artistas da palavra) como eu, sabedor de que quanto mais se diz, mais da poesia se dista.
--- Marcelo Sahea, março de 2010.

§

Eis os anúncios.

RD.

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