terça-feira, 18 de maio de 2010

Com poetas espanhóis e alemães

§ - Na companhia de poetas espanhóis e alemães.


Ocorreu na semana passada, aqui em Berlim, entre a quarta-feira e o sábado, um festival/encontro de poetas jovens da Espanha e da Alemanha. Nomearam o festival Brücke/Puentes, como a antologia brasileira/argentina da editora do Fondo de Cultura Económica. Participaram alguns dos poetas alemães mais conhecidos e respeitados a surgirem nesta década que se encerra, como Monika Rinck (1969) - de quem traduzi dois poemas para a Modo de Usar & Co., Hendrik Jackson (n. 1971) e Daniel Falb (n. 1977). Entre os espanhóis estava uma das poetas de que mais gosto na Espanha, a excelente Sandra Santana (n. 1978), de quem traduzi vários poemas, e que dirige um dos mais interessantes projetos poéticos da Rede, pesquisando o "livro por vir", com seu coletivo El Águila Ediciones. Sua poética parece unir-se, por veios poéticos subterrâneos, a outros contemporâneos espalhados pelo mundo, poetas que aprecio muito, como a argentina Lucía Bianco (n. 1979), a brasileira Juliana Krapp (n. 1980), ou o belga Antoine Wauters (n. 1981) --- uma espécie de perplexidade perante a linguagem e perante esse jogo divertido e ao mesmo tempo assustador de signi --- ficar.


Do livro Es el verbo tan frágil (2008), de Sandra Santana


El médico le rogó que tratase de ser más concisa: “Exactamente, ¿dónde le duele?”. Pero, en el transcurso del movimiento del dedo índice hacia la rodilla, aquel dolor metálico se disolvía en una especie de cosquilleo burbujeante en el talón izquierdo. Detuvo la mano avergonzada y empezó de nuevo, tratando esta vez de prestar un poco más de atención.

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O médico pediu-lhe que tentasse ser mais precisa: “Onde dói, exatamente?”. Mas, no trajeto em movimento do dedo indicador ao joelho, aquela dor metálica se dissolvia em uma espécie de cócega borbulhante no calcanhar esquerdo. Deteve a mão constrangida e começou de novo, tentando prestar desta vez um pouco mais de atenção.

(tradução de Ricardo Domeneck)

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Dos outros poetas espanhóis presentes, gostei muito de conversar e ouvir o poeta madrilenho Carlos Pardo (n. 1975), autor de El invernadero (1995), Desvelo sin paisaje (Pre-Textos, 2002) - /// Premio de Poesía Emilio Prados///, e, recentemente, Echado a perder (2008) - /// Premio Internacional de Poesía Generación del 27 ///.


El muerto y su referente
Carlos Pardo

DEDUCE mi estatura:
un palmo por encima del
idéntico perímetro craneal.
Mira si tengo bultos.
Quizá me reconozca por su nombre
y sea el de la silueta
en el diván.
Es mi padre, le hablo
de mí al borde de una orografía que
podría ser colina y de una hilera
de olivos hacia la pendiente
del horizonte. Persevero
como bien consumible
y, después, ese trozo
que nadie quiere una vez sacudido
el mantel, ni los pájaros
ni el viento,
ese trozo soy yo.

Era cuando la espiga
iba a dar a un arroyo, a su pequeña
comunidad.
El día del entierro
de un familiar me acompañabas, Padre,
por un sendero de granito.
Repasábamos
la cepa genealógica,
la niñez de tu esposa y la ruptura
con la anterior.
Y ya no había muerto
ni tierra ni real
olor a tierra.
El paisaje,
un inventario de diminutivos.


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