quarta-feira, 3 de novembro de 2010

"Reproduction", nova faixa e vídeo de Florian Pühs, ou Breve apresentação de um amigo, músico alemão, com notas sobre o punk no país

"Reproduction" (2010), faixa e vídeo do alemão Florian Pühs.


Conheci Florian Pühs em 2006, num clube subterrâneo do Berlimbo. Um amigo em comum estava discotecando, e eu fiquei imediatamente intrigado por aquele hipster de óculos. Eu, que sou ligeiramente obsessivo, até hoje tenho uma pequenina queda saudável por ele, e ele, por sua vez, tem uma grande queda pela namorada sueca dele, linda e inteligente (chamada Anna), tecladista da sua banda atual. Morando no mesmo bairro (o que em Berlim conta muito às vezes), ficamos muito amigos, gravei um retrato-em-vídeo dele, e acompanhei sua carreira musical na cidade. É que Florian chegou ao Berlimbo com um nome já feito na cena underground de punk core europeia, como vocalista e letrista da cultuada banda Surf Nazis Must Die. O nome da banda é um referência a um filme bizarro da década de 80. Quem escuta hoje suas produções de techno minimalista não deve acreditar que se trata do mesmo Florian Pühs que esgoelava canções de menos de 1 minuto típicas do punk, como esta "I am not anti-girls, girls are anti me":




"I am not anti-girls, girls are anti me", Surf Nazis Must Die, letra e voz de Florian Pühs.


Já escrevi sobre ele aqui, em um artigo chamado "Heine para punks", sobre sua canção "Neue Dresdener Schule", que usa versos de Heinrich Heine numa das minhas canções favoritas do punk dos últimos anos. Florian é hoje vocalista da banda Herpes, na linhagem do electropunk do Le Tigre, ou melhor talvez dizer na linha do synthpunk de uma banda sueca como The Hives. Os críticos os enquadram no que se convencionou chamar por aqui de movimento do Post-Punk Revival, pós-industrial, ou, numa clave bastante absurda em minha opinião, de neopóspunk. As raízes do movimento na Alemanha estão nas incríveis bandas do país nas décadas de 70/80, da chamada Neue Deutsche Welle (Nova Onda Alemã), como os grupos Palais Schaumburg, Einstürzende Neubauten, Grauzone, Hans-A-Plast, Deutsch-Amerikanische Freundschaft (também conhecida como DAF), Die Tödliche Doris, ou Malaria!.

A banda de Florian hoje, Herpes, é em minha opinião uma das melhores do movimento, ao lado de duas bandas contemporâneas da cidade de Colônia, chamadas MIT e Schwefelgelb. Desde 2007, quando a banda se formou, eles têm tocado no nosso evento uma vez por ano. Quanto eles tocam, nós chamamos a noite de Herpes Annual Celebration. Abaixo, vocês podem ver um vídeo do show deles no nosso clube em 2008:



Herpes ao vivo no nosso evento semanal em 2009.

Florian é um das minhas criaturas favoritas no mundo e um divertidíssimo poeta satírico em suas letras, que vão direto ao ponto. Posto abaixo duas canções dele com a banda, traduzindo a letra, poemas satíricos e canções punk. As duas são simples e diretas, como numa fatrasie medieval ou poema dadaísta. Em outras letras, seu sarcasmo com certos aspectos da vida berlinense aparece em textos mais sofisticados, que ainda quero traduzir para postar aqui. Por ora, vão os sopapos de "Du bist kein Mann" e "Very Berlin":


"Du bist kein Mann" (2008), Herpes, letra e voz de Florian Pühs.

Você não é homem, nada
texto de Florian Pühs, tradução de Ricardo Domeneck

E você corre e corre e corre
Mas não chega a paragem alguma
E você procura e procura e procura
Alguma coisa que não encontra, nunca

A vida é tão anti-você
Sobre você a vida só chove

E você corre e corre e corre
Mas não chega a paragem alguma
E você tem uma penca de sonhos
Mas só os constrói sobre dunas

E você corre e corre e corre
Pra dar de cara em outra parede
E mesmo que foda e trepe e beije
Mesmo assim não é nenhum homem

A vida é tão anti-você
Sobre você a vida só chove


§



"Very Berlin", da banda alemã Herpes, letra e voz de Florian Pühs.

Very Berlin
texto de Florian Pühs, tradução de Ricardo Domeneck

Essa batida, esse baixo, essa monotonia
Isso é very Berlin, você é very Berlin
Esse som, esse estilo, esses jeans
Isso é very Berlin, você é very Berlin

Baby, enfim chegamos ao fim
Enfim chegamos a Berlim

Vem pra cá,
Saia do buraco,
Tão mesquinho
E tão ferrado

Sem contrato,
Sem dinheiro,
Dá na mesma.

Essa batida, esse baixo, essa monotonia
Isso é very Berlin, você é very Berlin
Essa camisa, nessa cor!
Isso é very Berlin, você é very Berlin

§


A propósito, Florian Pühs discoteca hoje à noite em nossa SHADE inc.

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