terça-feira, 28 de agosto de 2012

A caminho da cidade natal de Gunnar Ekelöf

Embarco amanhã de manhã para Estocolmo, onde discoteco no clube Debaser na quinta-feira. Fico na cidade até sexta-feira à noite, minha primeira visita à cidade. Viajo com o produtor alemão e meu amigo Uli Buder, mais conhecido como Akia, que também discoteca na mesma noite.

Seremos recebidos por meu amigo Pontus Ahlkvist, jovem escritor sueco e também DJ, que conheci em Berlim em 2009, quando ele morava na cidade. Tive ótimas conversas com ele, que passavam invariavelmente por nosso poeta sueco favorito em comum, Gunnar Ekelöf, e por outros escritores que ambos admiramos, como Roberto Bolaño. Algumas vezes, com café e cigarro queimando de permeio, líamos poemas de Ekelöf, eu em traduções para o inglês ou alemão, ele então os lia em voz alta no original sueco. O poema abaixo nós traduzimos juntos numa destas tardes, usando a tradução para o inglês e conversando com Pontus sobre o original, seus sons, seu tom. 


Gunnar Ekelöf



Gunnar Ekelöf nasceu em Estocolmo, Suécia, a 15 de setembro de 1907. Contemporâneo de poetas como Carlos Drummond de Andrade, W. H. Auden ou George Oppen, estreou em 1932, com a coletânea Sent på jorden ("Tarde na Terra"). A este, seguiram-se inúmeros livros em prosa e de poemas, até sua morte na pequena cidade de Sigtuna, a 16 de março de 1968. É um dos modernistas suecos mais amplamente traduzidos. O poema abaixo foi traduzido em colaboração com o jovem escritor sueco Pontus Ahlkvist.


POEMA DE GUNNAR EKELÖF


Quando alguém vai, como eu, tão longe no absurdo
palavras tornam-se de novo interessantes:
Algo soterrado
que se revolve com pá de arqueólogo:

A pequena palavra tu
talvez miçanga
que um dia enfeitara um pescoço

A grande palavra eu
talvez quartzo em lasca
com o qual um sem-dentes qualquer desfiara sua carne
dura.

(tradução de Ricardo Domeneck,
em colaboração com Pontus Ahlkvist)

§

När man kommit så långt som jag i meningslöshet
är vart ord åter intressant:
Fynd i myllan
som man vänder med en arkeologisk spade:

Det lilla ordet
du
kanske en glaspärla
som en gång hängt om halsen på någon

Det stora ordet
jag
kanske en flintskärva
med vilken någon i tandlöshet skrapat sitt sega
kött


.
.
.

Um comentário:

Fábio Romeiro Gullo disse...

excelente poema. o contraponto de doçura e amargura, entre a penúltima e a última estrofes, é realmente mto habilidoso e gera um efeito misto de enlevo e terror. obrigado pela tradução, Ricardo!

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