quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A história da gerenta






A história da gerenta

              kissing the feet of the man above,
              kicking the face of the man below.
                               Marianne Moore

Para sentar-se à mesa,
ela exibiu as cicatrizes.
Ao ascender à direita
do patriarca-messias
– o falho unigênito –
expôs as cicatrizes
e todos aos joelhos,
boquiabertos frente
à ilusão do materno.
Uma vez à cabeceira,
abobava os convivas
com as acrobacias
de suas cicatrizes.
A gritos de rainha
louca, aquietava
todos os muxoxos
seu salvo-conduto,
imunidade herdada
de suas cicatrizes.
Em meio às rusgas
e a caça às bruxas,
nem as suas rugas
tapam as cicatrizes.
Altaneira, que sono
de justa lhe doam
as suas cicatrizes,
como é sobranceira
ao ditar quem vive
e morre, sem tremer
sequer a sobrancelha!
Chicote em punho,
castigava os dorsos,
mas quem ousaria
questionar a dona
de tantas cicatrizes?
Quando terminou
enfim o genocídio,
– não por detê-lo
mas consumá-lo –
ainda distrairia
a todos, houvesse
alguém sobrado,
com a autoridade
de suas cicatrizes.
Só, afinal, à cama,
sonhou-se em Haia.
Não se sabe, porém,
se qual juíza, ou ré.

.
.
.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog