segunda-feira, 26 de novembro de 2012

"Deixem-me recitar o que a História ensina" - Original & Deutsche Interpretation von Odile Kennel



Ontem à noite fizemos a última performance do Zeitkunst 2012, na Villa Elisabeth, aqui em Berlim. Posto aqui o poema que escrevi para a performance e que vocalizei com a peça "In a landscape" (1948), de John Cage, para a sua "Homenagem". Unten: Deutsche Interpretation von Odile Kennel.


Deixem-me recitar o que a História ensina

“Let me recite what History teaches”
Gertrude Stein

Nada, talvez. Não
se arde com a febre
alheia, só se aprende
com a faca e o fogo
na própria pele,
não contemplando a foto
da cicatriz
dum antepassado. Trágico
ou banal, tudo
parece fadado a repetir-se,
mesmo os discursos
sobre o sangue
que nos precede, nossa dívida
com seu derramamento.
Mas, mal há tempo
para justiçar os mortos
cumulativos, quiçá o sangue
se predestine, década
a década, a jorrar fora
de veias e artérias,
como se o chão invejasse,
por ser inanimado, os cinco
litros que insistimos
em manter selados,
(quase) herméticos
em nossos corpos. Fraturas
em esqueletos
de outros séculos? Fêmures,
úmeros de avós não
nos asseguram o aumento
da resiliência dos ossos,
não a curto prazo, os erros
de mães não nos valem
como cartilha.

Talvez Waterloo
ensinara algo a Napoleão,
mas certamente não
aos que ali morreram, a nós
são relatos tão próximos
quanto o das Termópilas,
e os soldados
em posição de descanso
em ambos os solos
ali estão, obedientes
ainda às ordens.
“Ilustríssimo senhor transeunte,
vem-se por meio desta requerer
que informe aos honrados
cidadãos de Esparta
que, por ocasião
da ressurreição dos mortos,
aqui estaremos, ainda
de uniforme, todavia prontos
para mutilar, pilhar e tolher.”

E no tempo começam
a distanciar-se
Canudos e Babi Jar,
Darfur e Bagdá
deitam-se tão longe
dos mapas do meu bairro.
Fronteiras unem, separam,
e nós, na fila de espera
entre passado e futuro,
nos confundimos,
sem passaportes,
como se as paredes
móveis de uma armadilha –
retrocedem, avançam,
não em velocidade
equilibrada e mal
as sabemos prestes
a esmagar-nos. Reprises
das quais esquecemos
invariavelmente os finais
ou os confundimos
com os começos de novos
episódios, ao advento
das represálias não sabemos
quais os crimes
originais, se somos o que vinga
ou o que incinera com ares
de uma mítica defesa legítima.

Toda morte
é uma queima de arquivos.
Aulas de História, mas não
da História. Esta, nada mais
que uma lista de revanches
infindáveis e não importa
se nossa brutalidade
é edênica ou endêmica,
se culpamos o ovo
ou o galo.

Com sorte, para nós o dénouement
funcionará como um desnudamento,
seguido de extinção, oxalá
sem muitos gritos.


Ricardo Domeneck, 2012.

:


Lasst mich vortragen, was Geschichte lehrt

                   Let me recite what History teaches
Gertrude Stein

Nichts, womöglich.
Man glüht nicht
von fremdem Fieber
man lernt nur
vom Messer und Feuer
an der eigenen Haut
nicht beim Betrachten
der Narben auf Fotos
von Vorfahren. Tragisch
oder banal, alles
scheint zur Wiederholung
bestimmt, sogar die Reden
übers Blut, das uns voranging
und unsere unbeglichene
Schuld an seinem Vergießen.
Wir haben keine Zeit
die angehäuften Toten
zu rächen, kann sein
Blut ist dazu bestimmt
Dekade um Dekade
aus Kapillaren
zu quellen, als würde
der unbelebte Boden
die fünf Liter uns neiden
die wir beharrlich
und (fast) hermetisch
in unserem Körper
verschlossen halten. Brüche
an Skeletten aus Großvaters
Zeiten? Oberschenkel-
Oberarmknochen
von Großmüttern
garantieren uns keine
größere Knochendichte, nicht
kurzfristig, die Irrtümer
der Mütter dienen
uns nicht als Fibeln.

Vielleicht hat Napoleon
aus Waterloo gelernt
doch sicher nicht die
die starben, und für uns
sind das Berichte
kaum näher als die Schlacht
bei den Thermopylen, Soldaten
in Ruhestellung bergen
beide Böden, sie gehorchen
noch immer Befehlen.
„Werter Wanderer,
hiermit bitten wir, die aufrechten
Bürger von Sparta
darüber in Kenntnis
zu setzen, dass wir
bei Auferstehung
der Toten bereit sein werden
zum Plündern, Verstümmeln, Verwüsten.“

Canudos und Babi Jar
rücken in die Ferne
Darfur und Bagdad liegen
außerhalb meines Stadtplans.
Grenzen vereinen, trennen
doch wir stehen Schlange
zwischen Vergangenheit
und Zukunft, kommen
durcheinander ohne Pass
als ob die beweglichen
Wände einer Falle –
sich auf dem Vormarsch
auf dem Rückzug
befinden, doch nicht
gleich schnell, wir ahnen
sie werden uns zermalmen. Reprisen
deren Ende wir grundsätzlich
vergessen oder
mit dem Anfang neuer
Episoden verwechseln.
In Erwartung von Repressalien
wissen wir nicht
was das Erste Verbrechen war
und ob wir Rächer sind
oder alles abfackeln
mit einem Ausdruck
mythischer Notwehr.

Jeder Tod
bedeutet Niederbrennen
von Archiven. Unterricht
in Geschichte, nicht
der Geschichte. Diese besteht
aus einer nie abreißenden Kette
von Vergeltungen, müßig
die Frage ob unsere Brutalität
edenisch oder endemisch ist
ob wir die Schuld beim Ei suchen
oder beim Hahn.

Mit etwas Glück besteht die Auflösung
für uns in Entblößung
und wir sterben aus, hoffentlich
ohne viel Geschrei.


(Deutsche Interpretation von Odile Kennel)
.
.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog