quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Começa hoje o Festival Zeitkunst 2013 no Rio de Janeiro. Mostro aqui um dos meus poemas inéditos, escrito para o Festival.



Começa hoje à noite a edição brasileira do Festival Zeitkunst 2013. Desde 2009, o Festival reúne poetas contemporâneos e compositores de música erudita para colaborações em peças inéditas, assim como em homenagens a compositores já mortos. São quatro programas este ano:

"Metamorfoses", com peças de Benjamin Britten (Inglaterra, 1913 - 1976), Witold Lutosławski (Polônia, 1913 - 1994) e a estreia de uma peça orginal de José Henrique Padovani (Brasil, 1981), todas baseadas em livros das Metamorfoses, de Ovídio.

A composição de Padovani foi composta sobre textos de 24 poetas contemporâneos, 12 germânicos e 12 lusófonos. Os poetas lusófonos são a portuguesa Matilde Campilho e os brasileiros Alice Sant´Anna, Marília Garcia, Ronaldo Ferrito, Luca Argel, Juliana Krapp, Laura Erber, Marcus Fabiano Gonçalves, Angélica Freitas, Ismar Tirelli Neto, Victor Heringer e eu.

A divisão dos temas para os brasileiros pode ser visto na tabela abaixo:



Os outros programas são: "Tributo a John Cage", "Tributo a György Kurtág" e "O Princípio do Tempo", este último com composições originais especialmente compostas para o festival pelo compositor palestino Samir Odeh-Tamimi (sobre poema de Johannes CS Frank) e pelo brasileiro Sérgio Rodrigo (sobre poemas meu e de Swantje Lichtenstein).

Uma comitiva já está no Rio de Janeiro, onde ocorre a edição brasileira, no Parque Lage, com a participação no Rio dos seguintes poetas: Max Czollek (Alemanha), Johannes CS Frank (Inglaterra), Matilde Campilho (Portugal), Jan Kuhlbrodt (Alemanha), Maya Kuperman (Israel), e dos brasileiros Alice Sant´Anna, Marília Garcia, Ronaldo Ferrito, Luca Argel, Juliana Krapp, Laura Erber, Marcus Fabiano Gonçalves, Ismar Tirelli Neto, Victor Heringer e Ricardo Domeneck. Veja aqui a programação.

Abaixo, mostro meu texto inédito "Narciso advoga em defesa própria", escrito para o programa baseado nas Metamoforses, de Ovídio. A constrição dada pelo Festival era que o poema tivesse 12 linhas, sendo 12 textos de 12 poetas brasileiros e 12 alemães, todos com 12 linhas.


Narciso advoga em causa própria
Ricardo Domeneck

Claro está que de minha história
ninguém lucrou em experiência
quando mencionam meu nome
com o tom de “eu não sou ele”,

nem entendem que eu é buraco
sugando tudo que dou sem dar,
reflexo, eco esquecem-se rápido
de rostos de origem, de goelas,

que mesmo eu próprio, aqui, ama
também outro, não me reconhece,
e, por fim, esta a minha vingança:
todo aquele que ri de mim, de si ri.

§

PROGRAMAÇÃO DA EDIÇÃO BRASILEIRA NO RIO DE JANEIRO


O Festival Internacional de Música e Literatura Contemporânea Zeitkunst apresenta, nos dias 28, 29 e 30 de novembro, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage – quatro concertos com obras de compositores do século XX, além de três estreias mundiais.

Como parceira do festival, a EAV Parque Lage apresentará ainda o trabalho do Núcleo de Arte e Tecnologia da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, sob a orientação de Tina Velho, na forma de uma intervenção visual ao redor do universo de John Cage.

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PROGRAMAÇÃO:

Rio de Janeiro, 28 de novembro de 2013 às 20:00.

Programa I

“Sinais, Jogos e Mensagens” – Uma homenagem a György Kurtág
Autores: Jan Kuhlbrodt, Luca Argel, Maya Kuperman
Músicos: Priya Mitchell, Manuel Hofer, Julian Arp, Luiz Gustavo Carvalho, Caspar Frantz, Noam Greenberg. Estreia mundial.

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Rio de Janeiro, 29 de novembro de 2013 às 20:30

Programa II:

- “Canções de ninar para sonâmbulos” - Uma homenagem a John Cage
Autores: Max Czollek, Ricardo Domeneck, Maya Kuperman, Johannes CS Frank, Björn Kuhligk, Swantje Lichtenstein, Jan Kuhlbrodt, Luca Argel - Músicos: Julian Arp, Caspar Frantz, Luiz Gustavo Carvalho, Matthias Jann, Julia Mihály, Fernando Rocha. O programa é feito em parceria com Grupo NAT_EAV | Núcleo de Arte e Tecnologia da Escola de Artes Visuais do Parque Lage

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Rio de Janeiro, 30 de novembro de 2013 às 18:00

Programa III:

“Metamorfose”
- “Seis Metamorfoses sobre Ovídio” para oboé solo. Benjamin Britten - Autores: Birgit Kreipe, Jan Kuhlbrodt, Max Czollek, Luca Argel, Ricardo Domeneck. Músico: Alexandre Ficarelli

- “Grave- Metamorfoses para violoncello e piano” . Witold Lutoslawski - Autores: 12 autores alemães, 12 autores brasileiros - Músicos: James Barralet, Noam Greenberg

-"Metamorfoses”, para violino, clarineta, violoncelo e piano. José Henrique Padovani. Autores: 12 autores alemães, 12 autores brasileiros - Músicos: Priya Mitchell, Teddy Ezra, James Barralet, Noam Greenberg
Estréia mundial

Poetas lusófonos do festival: Marília Garcia, Juliana Krapp, Matilde Campilho, Victor Heringer, Ismar Tirelli Neto, Ronaldo Ferrito, Alice Sant'Anna, Marcus Fabiano, Angélica Freitas, Luca Argel e Laura Erber.

Rio de Janeiro, 30 de novembro de 2013 às 20:00
Programa IV:

- “Para o início dos tempos“, para violino, viola, violoncelo, piano e percussão. Sérgio Rodrigo
Autores: Ricardo Domeneck
Músicos: Priya Mitchell, Manuel Hofer, James Barralet, Luiz Gustavo Carvalho, Fernando Rocha.

- “Os dez mandamentos”, para soprano, piano, clarineta, trombone, violoncelo, e percussão. Samir Odeh-Tamimi - Autores: Johannes CS Frank - Músicos: Julia Miháli, Caspar Frantz, Julian Arp, Fernando Rocha, Teddy Ezra, Matthias Jahn

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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Segundo episódio de "Unheard & Spoken", programa de rádio do Tetine sobre poesia sonora, que inclui 3 peças minhas



Segundo episódio de "Unheard & Spoken", programa de rádio do Tetine sobre poesia sonora, que inclui 3 peças minhas: "Don´t feed the poet" (2013), minha colaboração com Markus Nikolaus; minha peça "Pequeno estudo sobre a duração amorosa" (2011); e ainda "Mula" (2007/2013), minha colaboração com o próprio Tetine. Ainda: peças de No Bra, Black Future, Arrigo Barnabé, Johanna Went, Marc Almond, entre outros. Minhas peças começam a 22:56 do arquivo, mas recomendo vivamente o show todo.

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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Um poema de Andriy Lyubka


Andriy Lyubka é um poeta, prosador e crítico ucraniano, nascido em 1987. Publicou os livros Oito meses de esquizofrenia (2007), pelo qual recebeu o prêmio destinado em seu país ao melhor livro de estreia do ano, e ainda Terrorismo (2008), a coletânea de contos Killer (2012, já traduzida para o polonês) e sua última coletânea de poemas, 40 Mangos e Uma Gorjeta por Cima (2012). Uma antologia de seus poemas foi traduzida para o alemão e publicada na Áustria, com o título Notaufnahme (2012).

Participou ontem à noite da sexta edição do READING: a night of text / sound / video, organizada por mim e por Black Cracker aqui em Berlim. Participaram da leitura ainda os poetas Jon Sands (de Nova Iorque, via Skype) e Matilde Campilho. A noite encerrou-se com uma performance de Markus Nikolaus.

Leia outro poema de Andriy Lyubka, em tradução direta do ucraniano por Vira Vovk, aqui na Modo de Usar & Co.

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POEMA DE ANDRIY LYUBKA


Essa mulher em seu banheiro, depilando-se,
celebrará o vigésimo-quarto aniversário amanhã.
Talvez "celebrar" seja palavra ruidosa demais,
ela simplesmente telefonará para pai e mãe
e fará suas orações antes de ir para a cama.
Você não entende as orações, nem seus olhares misteriosos,
a língua que usa nos menus de seu telefone.
Vocês não estão predestinados a ficar juntos, e é melhor assim,
você diz para si mesmo: "é melhor assim".
Em momentos de ternura incomum, você diz
que acredita que eles não têm armas nucleares,
destruição em massa nenhuma, e sente-se um idiota.
E então você tem um sonho no qual o corpo dela
cheira a armas nucleares, como os desertos, as canções dos ciganos.
"Mas por que ciganos?", você se pergunta na manhã seguinte,
pena, não há resposta para esta pergunta. Você não sabe nada
sobre a infância dela, sobre o território em que recebeu sua 
              [educação em língua inglesa,
e por que exatamente ela escolheu você e não outro.
Vocês estão juntos há três semanas. E às vezes você examina 
              [o mapa-múndi,
avaliando a localização do Irã, seus vizinhos,
seus recursos, naturais e humanos.
Você considera que, com o passar do tempo, a compreenderá melhor.
Às vezes, você faz perguntas sobre o Irã, e promete a ela que visitarão 
             [o país juntos,
e ela ainda cheira a verão cigano e armas nucleares,
o deserto dela é entre vocês dois, a noite aproxima-se,
e ela está em seu banheiro, depilando-se.

(tradução de Ricardo Domeneck, a partir da tradução inglesa).

§

Жінка, яка голить ноги у твоїй ванній,
Завтра відсвяткує свої 24.
Хоча «відсвяткує» - заголосно сказано,
Просто подзвонить додому батькам
І помолиться ввечері.
Ти не розумієш її молитов, її загадкових поглядів,
Мови меню в її телефоні.
Вам не суджено бути разом, воно й на добре,
Кажеш собі, воно й на добре.
У хвилини особливої ніжності ти кажеш,
Що віриш, що в них немає ядерної зброї,
Жодної ядерної зброї, і відчуваєш себе придурком.
Потім тобі сниться, що її тіло
Пахне ядерною зброєю, пустелями і циганськими піснями.
Чому циганськими – питаєш себе зранку,
Але відповіді на це немає, ти не знаєш
Як минало її дитинство і де вона вивчила англійську,
Чому обрала саме тебе.
Ви разом три тижні. Часом ти розглядаєш карту світу,
Оцінюючи розташування Ірану, його сусідів,
Природні й людські ресури.
Тобі здається, що розумієш її все краще.
Іноді розпитуєш її про Іран, обіцяєш поїхати туди з нею,
А вона все пахне циганським літом і ядерною зброєю,
І така пустеля між вами, і насувається вечір,
І вона голить ноги в твоїй ванній.

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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Socorro mitológico

Você deseja virar-se para Fidípides
e gritar: "Corra, rápido, a Esparta!",
mas ali já não há socorro ou espada,
sabemos que tal fôlego já não existe.
De sua Atenas restam tão-só dívidas,
de Aquemênida temos Ahmadinejad.
Quando você ouve Invasão da Trácia,
o que se disse foi infestação de traças.
Do calor de músculo nas Termópilas,
só o morno dos cus em termômetros.


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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Nesta quarta, em Berlim: Leitura com Matilde Campilho (Portugal), Andriy Lyubka (Ucrânia), Jon Sands (EUA) e performance de Cunt Cunt Chanel


Nesta quarta-feira, sexta edição do evento que organizo com Black Cracker: READING: a night of text / sound / video, desta vez no clube SchwuZ. Com a presença do ucraniano Andriy Lyubka e da portuguesa Matilde Campilho, assim como o americano Jon Sands lendo via Skype. A noite encerra-se com uma performance de Markus Nikolaus, mais conhecido como Cunt Cunt Chanel. Amostras abaixo. Também me apresento.

Sobre os poetas:

ANDRIY LYUBKA



Andriy Lyubka é um poeta e crítico ucraniano, nascido em 1987. Publicou os livros Oito meses de esquizofrenia (2007), pelo qual recebeu o prêmio destinado em seu país ao melhor livro de estreia do ano, Terrorismo (2008), a coletânea de contos Killer (2012, já traduzida para o polonês) e sua última coletânea de poemas, 40 Mangos e Uma Gorjeta por Cima (2012). Uma antologia de seus poemas foi traduzida para o alemão e publicada na Áustria, com o título Notaufnahme  (2012).

   

Seus poemas foram traduzidos para o húngaro, tcheco, polonês, alemão, inglês, russo e português, neste último caso pela renomada poeta ucraniana Vira Vovk, que vive há décadas no Rio de Janeiro, onde vem traduzindo clássicos e contemporâneos da literatura ucraniana, mais recentemente no volume 25 Poetas Ucranianos: Antologia (Rio de Janeiro: Contraste Editora, 2009), do qual foi extraída, com permissão da tradutora e do autor, a tradução abaixo. Andriy Lyubka publicou ainda em revistas como Kiyvska Russ, SHO, Vsesvit e Potyag-76. O poeta vive e trabalha em Varsóvia, na Polônia.

união

o que significa a união dos escritores
é sem falta fazer assinatura
do jornal ucrânia literária
lembrar os bons tempos soviéticos
quando havia moradias gratuitas
deixar crescer bigodes cossacos
uma vez por ano escrever um artigo
sobre a degradação espiritual da nação
em cada ocasião citar a si próprio
levar colegas para tomar um gole
enxaguando-o com um suco de tomate para dois
inflamar-se no jubileu seguinte
conseguir comer o último sanduíche
ou então embrulhá-lo no guardanapo
e meu deus em toda a vida
não escrever nada que preste

(tradução de Vira Vovk)

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спілка

що  таке  спілка  письменників 
це  обов`язково  передплатити 
газету  літературна  україна 
згадати  про  добрі  радянські  часи 
про  безплатні  квартири 
відпустити  козацькі  вуса 
раз  на  рік  писати  статтю 
про  духовну  деградацію  нації 
при  кожній  нагоді  цитувати  самого  себе 
водити  колег  на  п`ятдесят  грам 
запивати  одним  томатним  соком  на  двох 
побухати  на  черговому  ювілеї 
встигнути  з`їсти  останній  бутерброд 
а  якщо  ні  то  завернути  в  серветку 
і  о  боже  за  ціле  життя 
не  написати  нічого  путнього


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MATILDE CAMPILHO



Matilde Campilho é uma poeta portuguesa, nascida em Lisboa no ano de 1982. Estudou Literatura na capital portuguesa e teve poemas publicados no jornal O Globo, na página "Risco" do caderno Prosa & Verso, dirigida mensalmente por Carlito Azevedo, e no quarto número impresso da Modo de Usar & Co.É inédita em livro. Escreve em português e inglês, e trabalha também com poesia vocal em vídeo. Matilde Campilho vive e trabalha em Lisboa.



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JON SANDS


Jon Sands é um poeta norte-americano, nascido em Cincinatti, Ohio. Publicou The New Clean (2011). Vive e trabalha em Nova Iorque. Lerá via Skype.


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MARKUS NIKOLAUS a.k.a. CUNT CUNT CHANEL


Markus Nikolaus é um músico e poeta alemão, nascido em Erfurt em 1989. Apresenta-se com o codinome Cunt Cunt Chanel. Vive e trabalha em Frankfurt am Main.


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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Almoço com O Moço

Almoço
com O Moço,
primeiro encontro
(intencional)
com O Moço
após 2 anos
de danos
e ossos.

Que eu seja,
que seja O Moço,
que tudo seja
carnavalesco,
arlequíneo e garboso:
e ao mesmo tempo
tão simoneweilesco.

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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Concílio Filológico do Império: Arquivo 22890.12 F: "Literatura da Era Pré-Cataclísmica". Catálogo: Vita 3.987 f.1.g8. Indivíduo: Ricardo Domeneck.




VITA

Ricardo Domeneck, também conhecido como Ricardo de Aparecida. Acredita-se ter sido o nome de sua mãe. Outra teoria possível é que tenha sido concebido na municipalidade pré-cataclísmica de Aparecida, no território então conhecido como "Estado de São Paulo" da Antiga República (Nota manuscrita à margem: menção à Antiga República passa a ser: proibida. Lei 2.347, do Segundo Ano do Reinado de Nosso Senhor Luiz Ignatius VII e sua Consorte a Rainha Katiabreu III).

No Manuscrito Sobrevivente 239f, ou Pergaminho das Sobras, textos atribuídos ao indivíduo no Manuscrito Sobrevivente 175g, ou Coda de Frangalhos são descritos como sendo de certo Ricardo de Bebedouro, do que se infere ter possivelmente nascido na municipalidade pré-cataclísmica de Bebedouro, no mesmo território: "Estado de São Paulo" da Antiga República. Isso tem dado força à teoria de que a alcunha "Ricardo de Aparecida" seria uma referência à sua progenitora. Não foi possível confirmar tais informações. Documentos pessoais crê-se tenham perecido no Segundo Grande Incêndio.

Sua obra extant consiste de   2   ( dois ) textos completos e  1  ( um ) fragmento. No entanto, uma linhagem de filólogos, especialistas nos anos imediatamente anteriores à Era Cataclísmica, afirma ser impossível estabelecer ao certo se os textos estão completos, devido ao caráter fragmentário da escrita da época. Nenhuma notação musical sobrevive. Alguns críticos têm disso inferido a possibilidade de que tenha pertencido à Escola dos Poetas Mudos, popularizada nos três últimos séculos do Pré-Cataclismo. 



INFORMAÇÕES TANATOGRÁFICAS


Acredita-se que tenha sobrevivido à Catástrofe Primordial. Alguns registros o localizam na região serrana do Rio de Janeiro, após a evacuação da cidade durante o Maremoto Gradual que assoberbou a costa (cf. "Ano do Degelo Consumado"), e mais tarde nas escarpas abruptas do Planalto Central à época do Primeiro Grande Incêndio. Mencionado em crônica (cf. "Catálogo da Literatura Pré-Cataclísmica - Crônicas da Evacuação": autoria: indivíduo 13839.87 G) entre os sobreviventes do período popularmente conhecido como "Cerrado em Chamas", no primeiro quinquênio da Segunda Guerra Migratória (nota: Ano de Extinção dos Povos Primordiais da Antiga República). 

Último registro confiável são evidências fotográficas durante a Queda de Brasília (Registro histórico cf. "Destruição da Capital da Antiga República"). Informações subsequentes tornam-se escassas e não confiáveis. Nenhum registro posterior ao Segundo Grande Incêndio.




PARA USO OFICIAL

Sentença avaliatória 

Publicação, recirculação, ensino e leitura expressamente proibidos pelo Concílio Filológico do Império. Textos denunciam que o autor seria praticante de atos sexuais ilícitos, possuidor de veleidades democráticas e de inclinações republicanas, todas vulgarmente comuns no Pré-Cataclismo

                           Declarado (  ) legível.
                                              (X) ilegível sob pena de (X) encarceramento.
                                                                                           (   ) morte.


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Recomendação do Concílio Filológico do Império



Damnatio memoriae.



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Avaliação da Cátedra Humanística 


Sua Santidade Marcus Felicianus XII recomenda a "Fogueira Fora das Portas" como destino para o Pergaminho das Sobras como um todo, e excisões extensas à Coda de Frangalhos.



STATUS LITERÁRIO-RELIGIOSO

Anathema.

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Observações adicionais:


Foto do indivíduo anexada ao "Pergaminho das Sobras", catalogada como pertencente a praticante alemão de alcunha: 


Jakob Ganslmeier

sobrevivente da Catástrofe Primordial.


Recomendação de destino à evidência fotográfica: 

 (  )  Arquivação.
(  ) Reciclagem.
(X) Incineração.


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PLANNINGTOROCK - 'HUMAN DRAMA'


PLANNINGTOROCK - 'HUMAN DRAMA' 

Been burning up inside day to day
Trying to find the words to explain my sexuality
It's liquid, it's living, a moving love defined by itself
There's no rules, no convention
This love can go where ever it wants

Gimme a human drama
And understand that gender's just a game
Gimme a human drama
All sexuality is not the same
Gimme a human drama
The personal is so political
Gimme a human drama
Again, again

Gimme a human drama
We break a box to find a hundred more
Gimme a human drama
There's lots to learn but so much more to unlearn
Gimme a human drama
The personal is so political
Gimme a human drama
It kinda feels like genders just a lie
Genders just a lie


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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Outros poemas de Rubens Akira Kuana

Rubens Akira Kuana nasceu em Videira, Santa Catarina, em 1992. 
Atualmente, reside em Curitiba, Paraná, onde estuda arquitetura e urbanismo.




velozes e furiosos 7

não é de toda
força ou modéstia
que se faz uma canoa

você encontra
uma canoa e deseja
rebaixá-la
levá-la junto com sua família
adotiva

this is brazil

escuta em um trailer
após o jogo
condecorativo
hoje
a floresta Amazônica
está pronta

para receber eventos
deste porte
uma proliferação
de agências de turismo
mosquitos
mordaças

sua família está a salvo
sua reputação está a salvo
seu investimento está a salvo

this is brazil

você cria um alter ego
silvio santos
explode cais e banco
com as mãos atadas
tira a camisa e resgata

o ritual
uma aldeia
o clube inteiro

compartilha

porque todo homem é um totem

pela safra seguinte
já constrói canoas
penhora-as e reclama
o reembolso

estes remos não remam
estes jeans encolhem
rápido, melhor
cultivar algodão transgênico
exigir cosméticos
mercenários
1, 2, 3
mas oi

peguem logo
os seus malditos macacos

this is brazil

cadê dinheiro


§

esvaziar o freezer jogar tetris cair

porque eu ainda não sei se o reflexo
que eu faço
sobre a pia
é a síntese das minhas costas
ou do hábito noturno talvez
não é o meu
olha
dentro da boca
o cotovelo caberia
se alcançasse
o seu queixo
deitado
é a espera
entre um charco e outro
nunca houve uma superfície inteira
que pudesse esperar
pelas minhas pernas
por favor
estão distantes demais
eu nunca vi neve na minha vida
e sinto que estou perdendo

tudo que não gravei em MP3 
quando os calcanhares se tocam
também
em horas ímpares
eu estou perdendo

fôlego acima de tudo

porque acima de tudo eu separei
um curso d'água 

até a calçada e de volta
até a sua

§

capotagens

a curva que você repete está indisponível
quando eu me jogo da varanda
direto para o sofá
é o ponto de apoio que eu pondero
é a pronúncia dos efes
f aquilo
f ábaco
f uma vertigem

f aquilo

agora podemos conversar sobre a estante
o ângulo que ela faz com os litros
de leite na sua mão esquerda
aproveitam para exclamar 
um F5 um tanto
autoritário

há uma única estação que nos impede
não foi feita para contornar
não foi feita conosco

a curva que você faz

quando está em pedaços

é mais curva do que o necessário

§

acidentes domésticos envolvendo toalha

o mistério ainda é maior
quando a descamação completa
eu me fecho

a porta da lavanderia
 completa
bato três vezes mais

fica mais fácil te explicar
o porquê das cortinas
estarem todas no chão

é que eu esqueci 

o salto dos sapatos
os noticiários esportivos
argumentavam
Borges era bulímico e não sabia
minha genealogia
o remédio

são as opções
quando eu jogo um pano de prato em cima

quando eu jogo um pano de prato
o mistério ainda é maior

em cima

da minha última carta de amor
restou uma passagem não-autobiográfica
é a primeira que eu levaria 
caso alguém consertasse o gelo
e aceitasse o troco
com amor até

logo muito
obrigado sinceramente
por favor


§

Gertrude Stein tinha um cão eu tenho dois

a notícia do cerco ao átrio
me convalesceu imensamente
porque eu pensei que todas as pessoas
ou pelo menos as pessoas
que eu adiciono
em uma escada
conheceriam o repertório completo

em uma escala

cada grito contra os outdoors
foram o que sobrepôs
o sangue

foi o sangue de uma pomba

o que me cercou

são projetos de vida
lacunas na minha pele 

indicam a direção

onde a notícia torna-se amena

será sangue
será inútil
será um

§

coincidências histéricas

eu quis comer a terra
que o seu pé esquerdo não possui
eu quis comer a terra
que o seu pé ainda não possui
eu ainda quis comer terra
apesar da sua cintura
ser ligeiramente menor
que o meu campo de visão
porque o meu campo de visão
é uma gangorra

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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

VIDEO: Domeneck & Nikolaus - "Don´t feed the poet" (live/ao vivo - Brussel / Bruxelles / Bruxelas)


Domeneck & Nikolaus - "Don´t feed the poet" (live/ao vivo - Brussel / Bruxelles / Bruxelas). 

Evento no espaço Les Ateliers Claus, também com apresentação solo de Markus Nikolaus (Cunt Cunt Chanel) e do duo Tetine. Curadoria de Hugo Lorenzetti Neto.


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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Cantiquim de butiquim pra flautim e tamborim

tem louco pra tudim
nesse mundim
mas não pra mim
não pra mim
nem um louco bem chinfrim
bem chinfrim
que só goste só de mim
só de mim

não tem que ser boa pinta
nem ter aí muita cifra
nem trabalho lá no INCRA
nem ir à Zooropa de turista

desde que só cuide só de mim
só de mim
quando me der uns Atchim!
e até me bote uns chifrim
mas só chame só a mim
de amorzim, curumim, benzim

eu teu vira-lata e tu meu mastim

e entre buritis seja meu bacurim
sem passado e futuro, só ínterim
e venha aguar o meu xaxim
ereto feito um anajá-mirim

e se na cama for ruim
está muito bem assim
se me der uns beijim
enquanto dura o ruim

um louco só pra mim
todim pra mim
que se nutra de Toddyim
às cinco da matin
com a cabeçona sobre mim
quando me falhar um rim

tu meu Zumbi e eu teu zumbi

e que fique assim
coladim em mim
feito um micuim
tolere faniquito e farnizim
me permita ser seu coxim
me implore paizim e mãinha
me chame de meu pinguim
ou da cozinha grite assim:
aprochegue-se mais de mim,
my Maria Antonieta d´Alkmim,
vem cá ser meu Diadorim.

ai meu edi
pros cinicozim e estoiquim 
traz o padê o kibe e o pudim
vem ser meu erê meu aquiri
mesmo se for barbie
mesmo se for boyzim
pode ser cafuçu ou hippie
se beber comigo uns otim
quando eu estiver tristim
porque já ando nefertite
e mal enxergo do zóím

e meio esquimó no friozim
me dê carícias de fucim
e aí me leve ao jardim
onde comeremos só quindim
onde tocaremos só chorim
onde cantaremos tim-tim por tim-tim
este cantiquim
pra flautim e tamborim
lá no butiquim
onde é o zé povim
que se cobre de baldaquim
onde passam os viadim
mas só eu sou sua putim

e o diminutivo será nosso Latim

ai, aí, assim
num mundo sem Putin
nem El Clarín
sem Vélodrome d´Hiver
nem Vichy
sem sinusite
nem Sin City
sem Sajmište
nem Mussolini
sem Sabra e Shatila
nem 37 em Nanking
sem Votorantim
nem Eikes Batistas
sem polícias e milícias
nem cristãs, nem judias, nem muslim
nunca mais outro e mais outro gurufim
e a floresta de Katyn
dê só flor e maruim

esse poema eu sei é bem bobim
e você já está me achando naïve
mas não quero torre de marfim
eu quero é torresmo e amendoim

porque é de Tendre o meu Pays

e digo então a esse Édenzim
vem ni mim
que eu tô facim
pode vim
lá em Póvoa do Varzim
ou no Benim

onde ele só me diga sim e sim e sim
e eu sussurre enfim, enfim

§

Rio de Janeiro, setembro de 2013.

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