sexta-feira, 31 de outubro de 2014

#DesarquivandoBR: "Quede Qaddish" : ao vivo na Cidade do México, com Anika: pelos desaparecidos



Na noite de 24 de outubro, fiz uma performance na Cidade do México a convite do programa Resistencia Modulada, da Rádio UNAM, e apresentei minha peça "Quede Qaddish" pelos desaparecidos políticos. Juntou-se a mim no palco, fazendo uma intervenção na peça, a produtora, poeta e cantora britânica Annika Henderson, mais conhecida como Anika. A peça foi originalmente preparada para uma performance no programa paralelo da retrospectiva de Hélio Oiticica no Museu de Arte Moderna de Frankfurt. Trata-se de uma colaboração com meu parceiro alemão Markus Nikolaus:  um poema simples seguido da lista de desaparecidos da Ditadura - lista à qual incluí nomes como o de Amarildo de Souza e Oziel Gabriel. Nesta décima blogagem coletiva do DesarquivandoBR, contribuo com o vídeo da performance.

 
Quede Qaddish

O corpo
também é penetrável.
Bala, eletrochoque,
rato, faca.

O corpo
também é flexível.
Forca, cadeira do dragão,
geladeira, pau-de-arara.

O corpo
também é irrastreável.
Vala comum, deserto,
Oceano Atlântico.

O corpo
também é catalogável.
Arquivos do Exército,
Marinha, Aeronáutica.

Lista de chamada:
Dilma Rousseff, presente.

Ausentes:

Adriano Fonseca Filho
Aluísio Palhano Pedreira Ferreira
Amarildo de Souza
Ana Rosa Kucinski Silva
André Grabois
Antônio ´Alfaiate´
Antônio Alfredo Campos
Antônio Carlos Monteiro Teixeira
Antônio de Pádua Costa
Antônio dos Três Reis Oliveira
Antônio Guilherme Ribeiro Ribas
Antônio Joaquim Machado
Antônio Teodoro de Castro
Arildo Valadão
Armando Teixeira Frutuoso
Áurea Eliza Pereira Valadão
Aurino Pereira dos Santos Pataxó Hã-Hã-Hãe
Aylton Adalberto Mortati
Bergson Gurjão Farias
Caiupy Alves de Castro
Carlos Alberto Soares de Freitas
Celso Gilberto de Oliveira
Celso Rodrigues Guarani-Kaiowá
Chico Mendes
Cilon da Cunha Brun
Ciro Flávio Salasar Oliveira
Cláudia Silva Ferreira
Custódio Saraiva Neto
Daniel José de Carvalho
Daniel Ribeiro Callado
David Capistrano da Costa
Dênis Casemiro
Dermeval da Silva Pereira
Dinaelza Soares Santana Coqueiro
Dinalva Oliveira Teixeira
Divino Ferreira de Sousa
Dorothy Stang
Durvalino de Souza
Edgard Aquino Duarte
Edmur Péricles Camargo
Eduardo Collier Filho
Elmo Corrêa
Elson Costa
Enrique Ernesto Ruggia
Ezequias Bezerra da Rocha
Félix Escobar Sobrinho
Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira
Francisco Manoel Chaves
Galdino Jesus dos Santos
Gilberto Olímpio Maria
Guilherme Gomes Lund
Heleni Telles Ferreira Guariba
Helenira Rezende de Souza Nazareth
Hélio Luiz Navarro de Magalhães
Hiran de Lima Pereira
Honestino Monteiro Guimarães
Idalísio Soares Aranha Filho
Ieda Santos Delgado
Isis Dias de Oliveira
Issami Nakamura Okano
Ivan Mota Dias
Jacinto Rodrigues Pataxó Hã-Hã-Hãe
Jaime Petit da Silva
Jana Moroni Barroso
Jayme Amorim Miranda
João Alfredo Dias
João Batista Rita
João Carlos Haas Sobrinho
João Cravim Pataxó Hã-Hã-Hãe
João Gualberto Calatroni
João Leonardo da Silva Rocha
João Massena Melo
Joaquim Pires Cerveira
Joaquinzão
Joel José de Carvalho
Joel Vasconcelos Santos
Jorge Leal Gonçalves Pereira
Jorge Oscar Adur (Padre)
José Humberto Bronca
José de Jesus Silva Pataxó Hã-Hã-Hãe
José Lavechia
José Lima Piauhy Dourado
José Maria Ferreira Araújo
José Maurílio Patrício
José Montenegro de Lima
José Pereira Pataxó Hã-Hã-Hãe
José Porfírio de Souza
José Roman
José Toledo de Oliveira
Kleber Lemos da Silva
Libero Giancarlo Castiglia
Lourival de Moura Paulino
Lúcia Maria de Sousa
Lúcio Petit da Silva
Luís Almeida Araújo
Luís Eurico Tejera Lisboa
Luís Inácio Maranhão Filho
Luiz René Silveira e Silva
Luiz Vieira de Almeida
Luíza Augusta Garlippe
Manuel José Nurchis
Marcos Veron Guarani
Márcio Beck Machado
Marco Antônio Dias Batista
Marcos José de Lima
Maria Augusta Thomaz
Maria Célia Corrêa
Maria Lúcia Petit da Silva
Mariano Joaquim da Silva
Mario Alves de Souza Vieira
Maurício Grabois
Miguel Pereira dos Santos
Nelson de Lima Piauhy Dourado
Nestor Veras
Norberto Armando Habeger
Onofre Pinto
Orlando da Silva Rosa Bonfim Júnior
Orlando Momente
Oziel Gabriel
Paulo César Botelho Massa
Paulo Costa Ribeiro Bastos
Paulo de Tarso Celestino da Silva
Paulo Mendes Rodrigues
Paulo Roberto Pereira Marques
Paulo Stuart Wright
Pedro Alexandrino de Oliveira Filho
Pedro Carretel
Pedro Inácio de Araújo
Ramires Maranhão do Vale
Rodolfo de Carvalho Troiano
Rosalindo Souza
Rubens Beirodt Paiva
Ruy Carlos Vieira Berbert
Ruy Frazão Soares
Sérgio Landulfo Furtado
Stuart Edgar Angel Jones
Suely Yumiko Kamayana
Telma Regina Cordeiro Corrêa
Thomaz Antônio da Silva Meirelles Neto
Tobias Pereira Júnior
Uirassu de Assis Batista
Umberto Albuquerque Câmara Neto
Vandick Reidner Pereira Coqueiro
Virgílio Gomes da Silva
Vitorino Alves Moitinho
Walquíria Afonso Costa
Wálter de Souza Ribeiro
Wálter Ribeiro Novaes
Wilson Silva

O corpo
também é penetrável.
Bala, eletrochoque,
rato, faca.

O corpo
também é flexível.
Forca, cadeira do dragão,
geladeira, pau-de-arara.

O corpo
também é irrastreável.
Vala comum, deserto,
Oceano Atlântico.

O corpo
também é catalogável.
Arquivos do Exército,
Marinha, Aeronáutica.

.

domingo, 26 de outubro de 2014

La Cochinísima


Una bromita para mis amigos mexicanos, en especial a Luis Felipe Fabre.

La Cochinísima

A algunas las llaman Agrado
a otras más desdichadas e infelices
sus mamás muy católicas
les ponen Martírios o Remédios
a otras más les ponen nombres
anglosajones latinizados
y ridículos como Ricardo
yo soy La Cochinísima
la que come camarones
comenzando por las cabezas
la que bautiza sus entrañas
todas las mañanas
con un clamato ardiente y picante
para que se queme por dentro
por respeto al infierno que trae
en sí misma
No me digan querida cariño o señora
yo soy La Cochinísima
la que camina por el Zócalo
toda de negro desde la cabeza
hasta la punta de la cola
por respeto al luto de sus abandonos
a la que le dicen pollo y oye polla
a la que le dicen hoja y oye polla
a la que le dicen Chapultepec y oye polla
si la invitan a cenar a sus casas
sin duda encontrará a quien comerse
en el sótano
un colchón cualquiera le sirve
a La Cochinísima
para hacer sus amores eternos
de cinco minutos
no le mires los ojos mucho tiempo
no porque sea una Medusa cualquiera
sino porque mientras miras su carota
La Cochinísima mide tu nariz
para adivinar otras simetrías anatómicas
no la envíes a un claustro
como a Sor Juana Inés de la Cruz
porque sin duda convertirá a las monjas
en putas delincuentes
yo soy Sor Cochana Penes de la Luz
una santa de matadero y carnicero
o mejor La Cochinísima
la que conoce la hidrografía del cuerpo
en todos sus fluidos
sus géiseres manantiales y cascadas
la que recorre el mundo
cantando sus cancioncitas
idiotas y cochinas
y catalogando los fenotipos del XY
la que vino para educarse a si misma
y entretener a las masas
o será al contrário?
ya no lo sé
aquí estoy a tu servicio
me llaman La Cochinísima
porque toda mi vida
sólo quise ensuciarte a tí
con lo que produzco en mí
que otros machos tontos lleven vírgenes
a los vergeles
a mí me sirven los mataderos
donde mis hermanas sagradas
berrean y chillan a la hora
de su muerte
y entonces mueren
muy dulces y mansas
para que vosotros os proteinicéis
yo soy la Prometéica
la que ha prometido
donar calor a los hombres
será por eso que me duele el hígado
todas las mañanas?

§

20 de octubre de 2014.
Ciudad de México, en una cafeteria de la Avenida Isabel la Católica.

.
.
.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Texto em que o poeta deixa de fingir dores que deveras sente e passa a folclorizá-las, em pleno México, no trigésimo aniversário d'O Moço


Moço,
hoje você completa
trinta anos. Tem a idade
de uma guerra
que acaba. Ontem,
em Coyoacán,
na casa de Rivera e Kahlo,
quisera dizer a você,
tal um árabe: Ya'aburnee.
Mas já estou morto
e enterrado.
Encontro-me onde
me perco, nesse bairro
que tem por nome
“lugar de lobos”,
Moço, lobos.
Eis-me no México,
todo barroco,
rememorando destroços.
Pensei no poema
de Mayröcker,
“Wolf wie ein Wolf”,
e também cá estou,
lobo como um lobo,
corcunda em Coyoacán,
“peso peludo suspenso”.
Eros homini lupus est.
Sobre a mesa: Sor Juana,
café e os cigarros.
No peito, o mesmo pigarro,
a mesma noz na garganta.
Há guerras que acabam,
outras que duram tanto,
como aquela de cem anos,
e creio que eu também, fiel
a um código anacrônico
de honra, caí em Agincourt,
numa saraivada de flechas.
Virá um João D´Arc
garantir minha vitória?
Faça o favor, alguém
espanque ou achincalhe
esse cupido puto.
Ele merece há séculos
uma boa surra.
Sor Juana sussurra
“sólo los celos ignoran
fábricas de fingimientos”
Cansei-me de fingir dores,
Moço, sinta-as ou não de feras,
agora quero folclorizá-las.
De poncho, canto
como Los Panchos:
"Lo dudo, lo dudo..."
É mais um exemplo
dos meus excessos,
que tanto o molestam,
quando hoje bastaria
um Feliz Aniversário.
Então, retrato-me
do poema acima
e digo apenas:
Feliz aniversário.
Espero que o outro
o tome hoje
nos braços
com amor redobrado.
Esse mesmo,
que com ele
comparto.

§

Cidade do México, 17 de outubro de 2014.



.
.
.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Nova colaboração com Markus Nikolaus - "The Barbarian Invasions"


Domeneck & Nikolaus - "The Barbarian Invasions"

Text & voice: Ricardo Domeneck / Music: Markus Nikolaus

The barbarian invasions

inhabitant of your
hair a structure
of smells and voice
a skin of one´s own
like a membrane
admitting no
osmosis no traffic
open and close
your hands fingers
as your most expensive
travelling equipment
your mouth moisture
the only liquid allowed
past airport security

species genus family
order class phylum
kingdom domain
father
not in heaven plays
the census of gender
according to method
of reproduction
mother
like a virgin plays
the large machinery
producing milk & other
secretive secretions
both perform
the monthly
waste of fluids
erecting a wall
of china for dinner

as birthright a syntax
to obey & a dictionary
to quote
from all said and done
if a border is the largest
organ of a country
migrate with migraine
nomadic in oblivion
for the manifold
stations of distance

the place you left
ends as the finish
line of the race
for your body
displacement
cross an ocean
in search
of the miraculous”
from ex-pariah
to expatriate
in the high culture
& haute couture
of new centripetal masters

watch the orgy of hosts
and guests and say: “far
from me
to interfere with the interior
design of your wholly
homogeneous country”

still the only
travel guide: leave
and lose door
keys and the house
all names and the lovers
attached to the names
a city a river a familiar
arrangement of trees

design build remodel
your cave your castle
a shell a solace bunker
with the skin you shed
with the hair you seed
and grow and reap
from your body
no exile is feasible
pack your bones
and leave home
with the attitude
of the first visigoth
at the gates of rome

.
.
.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Khunashtar-ool Oorzhak (1932 - 1993)



Khunashtar-ool Oorzhak foi um khoomeizhi de Tuva, nascido na vila de Mungash-Ak em 1932. Um  khoomeizhi é um artista vocal do khoomei, um dos estilos e práticas do canto gutural de Tuva. A cena acima foi extraída de um documentário de Werner Herzog, bells from the deep: faith and superstition in russia (1993).

Agradeço a Eduardo Sterzi, que postou o vídeo nas redes sociais.
.
.
.

Arquivo do blog