quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Dois poemas recentes de William Zeytounlian


William Zeytounlian, o esgrimista francófilo


Descobri e tive o prazer de conhecer alguns novos poetas este ano. Dentre eles, William Zeytounlian é certamente um dos que acompanho com maior interesse, e de quem espero poder em breve ler o livro de estreia. Os poemas espalhados pela Rede já mostram o talento auspicioso do jovem paulistano. Postei vários já na Modo de Usar & Co., da qual Zeytounlian tornou-se colaborador assíduo, com poemas, artigos e excelentes traduções. Ele foi também traduzido para o castelhano por Paula Abramo, que comparte comigo do entusiasmo por seu trabalho. Uma das traduções foi postada na revista que coeditamos, Area de Libre Poesía de las Américas. Li recentemente este novo poema dele, que demonstra mais uma vez a qualidade do que vem fazendo. Excelente poema. Encerro com o último que publicamos na Modo de Usar & Co. Os nascidos nos 80 vêm chegando. Aliás, jamais compreenderei os poetas mais velhos que ignoram o trabalho dos mais jovens. Alguns dos diálogos mais intensos e frutíferos que tive nos últimos anos foi com autores dez anos mais jovens que eu. Bem, também não estou tão velho assim (wishful thinking). Mas ao que importa: dois belos poemas de William Zeytounlian.


DOIS POEMAS RECENTES DE WILLIAM ZEYTOUNLIAN (São Paulo, 1988)


Monumentos à barbárie (toda parte)

sobra sobre sobra –
assim se desdobra
a intraduzível sombra
que ombro a ombro
assombra a estranha
soma que escombra
os monumentos;

pedra sobre pedra –
assim se manifesta,
à margem da imagem,
no abismo de uma fresta,
a larva que infesta a cesta,
a malha que a lama orvalha.

§

[noite fora]


noite fora
de medida

de censura,
vida ou corte:

testa o dia
sua sorte

na cesura
de uma vida

*
não basta

*

página de
acético ph

quebradiço
o papel como
um biscoito

as
promessas
nunca tardam
nunca tardam
em falhar.

*
não basta

*

banal
holocausto

do século
infausto:

por um
celular

a substância
vacila

entre as
facas
de cozinha.

*
não basta

*

noite fora
de medida

de censura,
vida ou corte:

testa o dia
sua sorte

na cesura
de uma vida


.
.
.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog