segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

"Cantiga de acordar para o menino do bóson-bosão"

Menino,
meninim,
bonobobobo,
meninão,

beijei você no meio da rua
e você segurou minha mão,
qual fôramos adolescentes
de quinze aninhos
ou aquela dos sete anões,

mãos bobas,
pernas bambas
feito leitoras
da "Capricho",
e os dois,
bobões babãos,
meio Meg Ryan,
riam.

De montão,
de tontões.

Os beijins, os beijões
embaçavam seus óculos
e você os punha no bolso.

Eu poeticulava no cabeção,
murmurava cantaroladinho:
"ósculos nos óculos,
quero ver o que você faz de bão"

Volta a hora
das cantigas
de ninar e de amigo,
porque eu, minhas filhas,
já cansei do cantochão.

E teve cachaça,
e teve cigarro,
e teve carinho
e, amém!, tesão.

Agora sobe
esta luz-rojão,
manhãssim,
manhãbobo,
manhãtão

e eu a seguro
com as duas mãos,
como ontem sua
mão que não sua,

mas que sim,
mas que bobo,
mas que tão.

Menino,
sei que é cedo,
mas quem de nós
está contando
os beijins, os beijões?

Não nós dois,
todo bonobinhos,
todo bonobões.

Vamos brincar de apelido:
eu chamo você
de bóson à brasílica
ou, à lusa, de bosão,
e a mim
você me chama
de Rasputin,
rasputão.

§

Berlim, 28 de fevereiro de 2016

(para o dramaturgo Daniel Sauermilch)

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