quarta-feira, 29 de junho de 2016

"People Flowed", nova colaboração com Nelson Bell (Crooked Waves)

Escrevi este texto na noite posterior aos ataques em Paris e Beirute. Nelson e eu gravamos os vocais e trabalhamos na música um par de dias depois de Orlando. Nosso amigo Dominic Ryan o masterizou agora, após o ataque  Istambul. Não vamos parar nunca?
 



Bell Dome - "People Flowed". Written by Nelson Bell & Ricardo Domeneck. Mastered by Dominic Ryan. Berlin, June 2016.

then the blood
flowed
and as the blood
flowed
the protocol didn't change
people screamed
then people screamed
for more blood
it is always so
blood flows
people scream
then people scream
more blood
i ask myself
isn't there an end
to blood
don't the stocks
of the world
run low
our spleens
can't possibly be
this tireless
i am 38
i have seen my share
of massacres
as a child
i learned the word
war
with images of beirut
yesterday there were
more images of blood
in beirut
as a child
i learned the word
terror
with strange initials
ira
raf
the initials have changed
not the terror
bombs explode
triggers are pressed
blood flows
people scream
then people scream
more blood
i am 38
is this half-way
already
like dante begins
his comedy
half-way in life
i look around
it looks like a dark wood
if i live 38 more years
will the initials
change again
are we trying
all possible combinations
i don't know how
tortoises parrots whales
can take it

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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Versos domingueiros




Tua garganta inflama como se abraçasse a si mesma,
sobre as vértebras trombam-se as pontas dos dedos.
Nana, nenê. A Cuca é ninguém menos que tu mesmo,
no escuro, livre por saber-te o monstro sob o berço.



Berlim, 26 de junho de 2016.

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sexta-feira, 17 de junho de 2016

Vem aí a segunda edição de "Cigarros na cama"

Cigarros na cama, meu bolero de fossa pós-apocalíptica no ano 2011, ou Ano 1 d.M. (depois d'O Moço), terá segunda edição este ano pela Luna Parque. Talvez haja até ineditinhos para açucarar (ou amargar?) a edição. Mais notícias em breve.



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quinta-feira, 16 de junho de 2016

"Malik Adan em minha sala" (2016)



Malik Adan é um jovem ator alemão, nascido em Berlim em 1992.

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terça-feira, 14 de junho de 2016

DANDO BANDEIRA (poema para vozes sobre palanques)


meu nome-função
foi já temido e respeitado
como dádiva dos espíritos

wíŋkte entre os lakotas
nádleehé entre os navajos
lhamana entre os zunis
aayahkwew entre os crees
sipiniq entre os inuítes

entre os itelmens da sibéria
koekchuch
entre os samoanos da polinésia
fa'afafine

e girei as ancas como
köçek
em palcos para os otomanos

e mesmo entre os que ontem
mesmo metralhavam-me
já fui mukhannathun
ou ainda hoje hijra 
chamam-me pela índia

assumi tantas
funções
em meus eus
em relação-dança
a vosso elela

e vos ensinei
barroca-rococó
que o inútil é útil

e curei, curandeira
e nomeei, batizeira
e teci, costureira
e invoquei, xamaneira
e entreti, entreteneira

hoje são outros os nomes
com que me celebrais
pelas ruas

bicha
sapata
viado
boiola

e até destes vossos inúteis
algo útil fiz
em meio a minhas irmoããs

sabendo que vossas
estrelas-de-seis-pontas cruzes e crescentes
cedo ou tarde são usadas
como estrela-ninja espada e foice
contra nossos lindos corpinhos

mas ora faz
séculos milênios
assistimos à morte
dos vossos deuses
um por um

cá estamos ainda
a vosso serviço, idiotas

por que seria diferente
com estes que ora exigem
tudo organizado em apenas
duas gavetas
como se assim fosse
desde o começo do mundo?

grandessíssima
mentira
para boy dormir

e

é chegada a hora
é passada a hora
é chagada a hora
de que nos desaquendeis,
filhotes de alibãs

porque dos erês às cacuras,
já nos cansou a belezura

transformar vossos cacetetes
em varas de condão
e vossas horrorosas pochetes
em marsúpios

nós, gloriosas canguruas

apontando o caminho
a saltos largos
para vossos passos
de cágados
todo cagados

rumo à civilização

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sexta-feira, 10 de junho de 2016

Ouçam "Little Mess", faixa do produtor alemão Crooked Waves (Nelson Bell)



Crooked Waves é o produtor alemão Nelson Bell, sobre o qual já falei aqui, e com quem tenho o prazer de colaborar no duo Bell Dome. Ouçam a faixa "Little Mess", com vocais seus e de Lynn Rin Suemitsu (que se apresenta como RIN), de seu EP de estreia, "Floating", que Black Cracker e eu estamos lançando por nosso selo/editora Gully Havoc.




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quinta-feira, 2 de junho de 2016

Carta mal-humorada à santa carioca do pau oco no dia do seu aniversário

diz aí, bicha de risinho modernista, quando é que vão deixar de te tratar feito criança, hein, meio assexuada, meio infantilizada, esses teus machos-viúva que até hoje lucram com as fofocas de namoricos, hein, bicha-santa, será que vão finalmente ter coragem de mencionar tua sapatice lá na FLIP, ou ainda vai ficar no muxoxo, no disse-que-disse que não se diz, na correspondência incompleta, hein, bicha-vândala, até onde vão assaltar teus cadernos, olha só de novo na página 226 desse poética cor-de-rosa aquela tua tradução de marianne moore que deus sabe, hein bicha-coceira, se acharam que era apropriação feito as de jorjão de lima, ou se até hoje não perceberam que era só isso mesmo, uma tradução com rabiscões e comentários de poeta ao lado, até o rabisco de dúvida ("diria?") na mesma linha em que aparece "dizia", diz aí, falarão sobre elas quando as compreenderem? de nós sobra só isso mesmo, essa "paixão chinesa pelo particular" não compartilhada pelos que nos folheiam ao léu. 

que fique claro, bicha-esperta, não ando por aí te chamando pelo primeiro nome, nem por apelido, se te menciono, e o faço pouco, é com nome completo, nunca fiz a íntima, santa de altar meu não é, e para que haja comércio entre nós te juro, te olho de igual pra igual, não te faço de santa não, de mulher-maravilha estilo anos 70 que dá uns giros e fica mais pelada, te olho e vejo uma mulher dona de seus passos haja ou não chão sob eles, não estou aqui para lucrar com os saltos mortais dos outros, tomo o que me interessa como poeta faz com poeta desde que o mundo é mundo e fomos capazes de dizer "mundo", poeta-bicha, bem que sei que concordaria afinal que de bíblia basta uma, que canseira deste não-me-toque, destas luvas não de pelica mas de borracha com que te manuseiam, de sublinharem o que a bicha não escreveu, espero que o chão te seja leve após ter-te sido tão duro.

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